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Debandada da Seleção expõe crise no vôlei feminino

O técnico da Seleção Brasileira de vôlei feminino, José Roberto Guimarães
Há uma crise em marcha na seleção brasileira feminina de vôlei, muito mais do que uma simples turbulência no time comandado pelo técnico José Roberto Guimarães. Os sucessivos pedidos de dispensa envolvendo as jogadoras Thaísa, Dani Lins, Camila Brait, Tássia e Gabi Cândido chamam a atenção e deixam o treinador preocupado. Isso sem contar com Adenízia, que se antecipou a Zé Roberto e já avisou estar abrindo mão do time nesta temporada, tão importante em ano dos Jogos Pan-Americano de Lima, Mundial e às vésperas da Olimpíada de Tóquio-20.
Não se trata de boicote das meninas ao treinador, como sugere o tema, pelo menos levando-se em conta as justificativas oficiais apresentadas por Thaísa e Dani Lins, por exemplo, que não aceitaram o chamado por causa de problemas físicos. O corpo dessas atletas já não suporta mais a carga exigida de exercícios e trabalho no time.
Portanto, boicote seria um termo forte e inapropriado para a debandada na seleção feminina, de acordo com o próprio Zé Roberto. Em conversas reservadas, ele não sugere esse tipo de comportamento das atletas.
A questão para o pedido de dispensa de Camila Brait é pessoal, afinal foram dois cortes consecutivos em 2012 e 2016 - as duas últimas Olimpíadas. Mas não está descartado que a líbero trabalhe novamente com o treinador em 2020, ano de ajustes para Tóquio. Tássia e Gabi Cândido também alegaram problemas pessoais para deixarem a equipe. Se fosse apenas isso seria menos preocupante. Gabi é exemplo da fragilidade emocional da atual geração.
Problemas que surgiram ainda nas categorias de base da seleção são refletidos diretamente nos clubes e até hoje eles são mal resolvidos entre as atletas. Elas sentem demais a pressão.
Procurada, Gabi não retornou as ligações. Mas ela não é a única a se sentir pressionada. Nos bastidores, atletas confidenciam que é difícil responder à altura no time nacional e que seria mais interessante se refugiar nos clubes. Fontes ligadas ao vôlei, até mesmo jogadoras mais veteranas, falam numa geração caracterizada pelo comodismo de atuar nos clubes, onde recebem salários em dia.
Muitas das atletas que poderiam estar na seleção conquistaram objetivos fora de quadra muito rapidamente, passaram a ser mais valorizadas, ficam boa parte do tempo nas redes sociais e acabam se expondo desnecessariamente quando perdem partidas importantes. Algumas não têm condições de suportar emocionalmente situações de cobrança e não enxergam a seleção como prioridade.
Zé Roberto sabe exatamente o momento do Brasil. Tem de ganhar jogos importantes, se classificar para as grandes competições e trabalhar para se manter entre as melhores seleções do mundo.

Psicologia

A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) não oferece a seus jogadores acompanhamento psicológico e não alerta sobre os cuidados que cada um deveria ter com sua própria imagem nas redes sociais. É um trabalho com brechas. Rosa Maria, do Praia, é uma das esperanças de renovação do time. Zé Roberto aposta na atleta. Mas, de acordo com apuração do Estado, já teria comunicado a ele que não tem condições emocionas de ajudar.
Há uma outra questão envolvendo atletas em relação às convocações. Jogadoras, em alguns casos, preferem ficar na reserva de suas respectivas equipes em vez de buscar espaço em times de menor expressão para aparecerem. Fazem isso pela segurança do salário.
São raríssimas as exceções que topam esse caminho árduo. Gabizinha, que vai se despedir do Minas para atuar no Vakifbank (da Turquia), é uma delas. Dona de personalidade rara, ela se tornou imprescindível ao Brasil aos 24 anos de idade. Por essas e outras que o técnico resolveu apelar para atletas que foram campeãs olímpicas, portanto, mais experientes. Nos bastidores, o que se comenta é que o Brasil ficou em segundo plano na carreira de algumas dessas novas atletas.

Desgaste

Zé Roberto sabe, porém, que a recusa não serve como desculpa para os resultados ruins obtidos na temporada passada. São praticamente 15 anos no comando do time e é natural que ocorram problemas de relacionamento, divergências sobre os métodos de treinamento e o desgaste natural de qualquer relação com o tempo.
O técnico se prepara para ter mais baixas. Drussyla e Fernanda Garay, por exemplo, serão as próximas a pedir para sair. A primeira por questões físicas. A segunda por opção. O técnico poderá então se agarrar ao passado e trazer de volta atletas mais bem preparadas emocionalmente e que valorizam a seleção para tentar livrar o País do risco de não ir a Tóquio, como Sheilla, Fabiana e Natália.


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