Em meio à festa, uma polêmica. Neste domingo, o Brasil conquistou seu 11º título do Grand Prix. A conquista dá ânimo e confiança para a disputa dos Jogos Olímpicos, no próximo mês. Um fator, porém, não deixa a seleção nada feliz. Com a vitória, a delegação embolsou uma premiação de US$ 200 mil (cerca de R$ 660 mil), dividida entre os integrantes. O valor é cinco vezes menor que o pago aos campeões da Liga Mundial, competição disputada pelas seleções masculinas. O primeiro colocado recebe US$ 1 milhão (R$ 3,3 milhões), enquanto o vice fica com US$ 500 mil (R$ 1,65 milhão) . No Grand Prix, os EUA, que perderam para as brasileiras na final, levaram US$ 100 mil (R$ 330 mil), enquanto a Holanda embolsou US$ 75 mil (R$ 247,5 mil).
A diferença é encarada como machismo pela seleção brasileira. O valor pago às meninas é menor até que o pago ao terceiro colocado da Liga Mundial, que ganhará US$ 300 mil (990 mil). O fato não agrada em nada às jogadoras.
- É uma sacanagem. Pronto, já respondi. É um absurdo. Falamos isso desde o meu primeiro Grand Prix. É injusto. E ainda pagavam US$ 250 mil (R$ 825 mil), mas diminuíram – lamentou Sheilla, que ganhou US$ 5 mil (R$ 16,5 mil) a mais por entrar na seleção do campeonato.
Thaísa vê a distância de valores como uma injustiça. A central que, assim como Sheilla, também ganhou um prêmio a mais por entrar na seleção do Grand Prix, acredita que as equipes femininas se esforçam tanto quanto as masculinas em busca do título.
- É um absurdo. Acho que o feminino é tão espetáculo quanto. Tem pessoas se dedicando e dando a vida tanto quanto o masculino, o campeão é tão campeão quanto no masculino. Então, acho que não custa valorizar os dois. Pelo menos com um valor próximo. Acho que isso mostra um pouco de machismo. Defender o masculino e não defender os direitos de igualdade no feminino. Nós lutamos, treinamos, corremos atrás, fazemos cirurgia, sentimos dores. Tudo igual. Exatamente igual. A dedicação é a mesma, lutamos pela pátria do mesmo jeito. Então, acho que merecemos igual.
Em um primeiro momento, a Federação Internacional de Vôlei (FIVB) encarou a situação com naturalidade. Procurada pela reportagem do GloboEsporte.com em busca de uma posição oficial dos dirigentes, a diretora de imprensa da competição afirmou que "não era preciso, uma vez que a premiação está estipulada no regulamento há tempos e que as equipes concordam com isso".
A reportagem, então, pediu uma entrevista com o presidente da entidade, o brasileiro Ary Graça. Não havia recebido resposta até conseguir falar com o dirigente durante a premiação do evento. Ele admitiu a desigualdade entre as duas competições, mas prometeu mudanças.
- O Grand Prix é uma competição que vem sendo feita há anos, mas estava começando a emperrar um pouco. Agora, nós retomamos com toda a força. Para você ter uma ideia: no ano passado, ganhamos um determinado valor de patrocínio. Aqui (em Bangcoc), ganhamos três vezes mais. Para o ano que vem, já tenho proposta de mais de US$ 3 milhões (R$ 9,9 milhões). Nós vamos acabar com isso (diferença tão grande de premiações). Essa observação é bem a propósito. Tem tudo a ver. Nós arrecadamos mais no masculino. Tem sido assim. Mas agora estou muito na Ásia. Fui à China duas vezes, ao Japão duas vezes, aqui duas vezes. Então, estamos descobrindo novos mercados. Na minha cabeça, vamos subir esse prêmio logo. Tudo é licitação. Se for o que me disseram, vou ter dinheiro para pagar às jogadoras.
Capitã da seleção, Fabiana lamenta. Apesar das promessas do dirigente, diz que a situação já deveria ter sido resolvida há tempos.
- Amanhã já é tarde. Esperamos que isso tenha melhoras. Porque não é justo - afirmou.
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