Em 2013, o vôlei de quadra passou a ter o recurso do desafio de vídeo para contestar lances polêmicos e ajudar a arbitragem a fazer as marcações corretas. Atualmente, ele está completamente integrado à dinâmica das partidas e tem sido elogiado. Mas a inclusão da tecnologia nesse esporte não está presente somente durante os jogos. Seleções do mundo todo têm usado inovações tecnológicas para melhorar seu voleibol. No Brasil não é diferente. Um dos recursos preferidos da comissão técnica de Renan Dal Zotto nos treinamentos visando a fase final da Liga Mundial, de 4 a 8 de julho em Curitiba, no Paraná, é a medição de velocidade de saques para ajudar os jogadores a evoluir nesse fundamento. Para isso, eles têm usado radares parecidos com os que a Polícia Rodoviária Federal utiliza nas estradas para multar motoristas infratores que estejam dirigindo em velocidades acima do permitido.
Seleção brasileira de vôlei treina com uso de radares (Foto: Marco Antônio Teixeira/MPIX/CBV)
O GloboEsporte.com esteve em um treino da seleção brasileira no Centro de Desenvolvimento do Vôlei (CDV), em Saquarema, na Região dos Lagos, durante a semana, e presenciou as atividades usando os radares. De um lado da quadra, ficam os atletas preparados para disparar os saques. Do outro, posicionados atrás dos líberos Thales e Tiago Brendle que treinam a recepção, ficam dois membros da comissão técnica com os medidores de velocidade nas mãos. Assim que os jogadores sacam, eles levantam os objetos, dão uma olhada nos leitores e gritam a velocidade que a bola atingiu na ação (assista ao vídeo acima).
- O Isaac foi a 115 km/h nesse treino. É um radar igual ao que a Polícia Rodoviária usa para captar as velocidades dos veículos. Medimos a velocidade do saque e, aos poucos, vamos traçando objetivos. (Nessa atividade), em um primeiro momento, os jogadores sacavam soltos, a 60, 70% da capacidade máxima. Depois, buscaram atingir o ponto máximo. Conforme fazemos esse trabalho mais vezes, se traça uma máxima e podemos definir mais objetivos durante os treinos. Vamos registrando quantidade de saques, aproveitamento e velocidade máxima - explicou Luciano Sobrinho, auxiliar de treinos, função mais conhecida como "braço".
A utilização dos radares criou também uma espécie de competição informal entre os atletas, que querem sacar mais forte que seus companheiros. Mas não é só força. Saques na rede ou fora da quadra não valem. Portanto, a seleção brasileira leva em consideração não só a velocidade do tiro, mas a efetividade. Afinal, é o que contará numa situação de jogo: um ace, valendo um ponto para a equipe, ou um bom saque que dificulte o adversário e facilite o bloqueio brasileiro.
- Um dos objetivos do radar é isso mesmo, a concentração, a motivação, para ver quem consegue sacar mais. Mas o mais importante é o acerto, não a velocidade maior. Não adianta sacar a 120 km/h para fora ou na rede. É uma preocupação com tudo. Eu acho que é mais para tentar alcançar o padrão internacional, porque todo mundo saca muito forte. Isaac foi a 115 km/h. Eder saca muito forte. Tem dois tipos: um que saca acima de 100km/h em uma média, entre 105 e 110 km/h. E esse é constante. Tem o que saca 115, 112, 111 km/h, mas ele não tem uma margem de acertos tão alta. Aí você pega o Rodriguinho que fez nove saques, errou um, sendo todos acima de 100. É uma média muito boa - completou um dos "braços" do técnico Renan, Luciano Sobrinho.
Os atletas curtem e se divertem quando vencem a competição nos treinamentos.
- Dá sim (para zoar). Essa brincadeira é saudável porque nos ajuda a manter a concentração. Procuro ser cada vez melhor. Lógico que a velocidade não é tão importante, porque o mais importante é ter acerto, essa continuidade no saque. Mas essa disputa é natural, e é bom para evoluirmos. O saque é muito importante, sobretudo no vôlei masculino, porque se você dificulta o passe do adversário, já é meio caminho andado para o bloqueio fazer seu trabalho bem, a defesa, então é a arma do vôlei masculino. Temos que trabalhar bastante e estamos fazendo isso. Procuramos evoluir a cada dia mais - opinou o central Otávio.
Wallace, um dos mais experientes do elenco atualmente, crê que o saque seja sim uma arma fundamental, mas explica que há dias em que, simplesmente, ele "não entra".
- Acho que é mais um estímulo mesmo, um desafio entre nós e a questão do erro. Não adianta dar um saque de 110, 115 km/h, mas ir na rede. Brincamos de não ter dois erros seguidos, por exemplo, e isso é importante, porque querendo ou não acontece isso tudo no jogo. É nossa brincadeira sadia ali. Tem que ser uma das armas, mas não podemos depender só dela, porque tem dia que não vai entrar, tem que botar isso na cabeça. Está bem fixado já na cabeça de todo mundo - comentou.
Além dos radares para aferição da velocidade dos saques, a seleção brasileira conta com uma máquina de saques para treinar a recepção. Ela conta com cinco memórias, portanto, pode ser regulada em velocidades diferentes para simular as mais diversas situações de jogo. O assistente técnico Giuliano Ribas, conhecido como Juba, é quem controla a máquina.
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- Todas as equipes do mundo usam. Fazemos variações. Com o tempo, vamos controlando melhor a forma de colocar a bola no rolo para pegar mais velocidade, vai montando os exercícios em cima disso. Fica muito próximo dos atletas. Alguns sacam a 115, 120. A máquina chega a 115, 118, às vezes afere essa velocidade. E chega muito próximo. Mas a questão é o volume, porque colocamos os auxiliares de treino, e o braço não sustenta o tempo todo, né? Então a máquina é um preventivo para conseguir dar o volume e não lesionar ou desgastar ninguém. Da máquina não temos registros. Nosso estatístico Henrique faz o scout da nossa linha de passe, mas da máquina não - concluiu o assistente, que vai trabalhar sob comando de Rubinho no Sesi-SP.
Na fase final da Liga Mundial, o Brasil terá pela frente, na primeira rodada, dia 4, às 15h05 (de Brasília), o Canadá, enquanto na quinta-feira, 6 de julho, o duelo é com a Rússia. Caso avance, jogará a semifinal na sexta, 7, e a decisão será dia 8, sábado.
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