Estreia do octacampeão na fase final da Liga Mundial contra uma seleção que perdeu todos os jogos nesta edição do campeonato. A vitória do Brasil seria fácil, correto? Mas não foi. Com falhas na defesa e momentos de desatenção em quadra, a equipe do técnico Bernardinho sofreu para derrotar a Argentina dentro de casa. Sob o olhar atento de 9.200 pessoas no ginásio Orfeo Superdomo, a equipe verde-amarela venceu por 3 sets a 2, parciais de 25/17, 23/25, 25/20, 19/25 e 15/10, mas não conseguiu convencer a minoria de torcedores que atravessou a fronteira para assistir à partida em Córdoba.
Eram cerca de 30 pessoas com a camisa do Brasil no ginásio. Assim que começavam a tentar cantar, eram ofuscadas pela imensa maioria argentina, que exibia bandeiras e cartazes de incentivo à seleção. No entanto, a forte rivalidade entre os países, tão característica no futebol, só chegou a ser sentida mesmo no Orfeo Superdomo quando a seleção entrou em quadra, surgindo uma enorme vaia vinda das arquibancadas.
Com a bola no alto, Quiroga se consagrou como o maior pontuador do jogo, ao somar 22 acertos, dois a mais que Pereyra. Pelo seleção, Murilo e Dante foram os destaques, com 20.
O Brasil volta a jogar nesta quinta-feira, contra a Sérvia, às 21h (de Brasília). A partida será a reedição da final da Liga Mundial de 2009, quando a seleção conquistou o octacampeonato.

O saque deu o tom do início do jogo em Córdoba. Se de um lado a Argentina pecava bastante no fundamento, do outro, o Brasil pesava a mão para complicar a defesa adversária. Murilo deixou a seleção com cinco pontos de diferença no placar ao somar dois triunfos no serviço, e Lucão aproveitou as bolas que voltavam com facilidade para subir bem no bloqueio.
Um ponto antes da segunda parada técnica, porém, uma banda que entrou no Orfeu e agitou a torcida argentina no ginásio anunciava que os donos da casa queriam uma reação. Pelas mãos de Quiroga, eles conseguiram cinco pontos na entrada de rede, furando o bloqueio brasileiro, que caiu de rendimento. Na paralisação, a falha no fundamento fez Bernardinho até mesmo discutir com Vissotto, que voltou melhor após a chamada do técnico. De volta à quadra, o entrosamento entre Bruninho e Lucão fez efeito, e Dante e Rodrigão entraram no jogo para fechar o primeiro set em 25 a 17, com ponto de Théo, que entrou no fim da parcial para aumentar a rede.
No início da segunda parcial, o Brasil continuou ditando o ritmo de jogo e caminhava para mais uma vitória, abrindo 4 a 0 no placar. Porém, de repente, a atenção do time sumiu de quadra. Com os jogadores dispersos e perdendo bolas em jogadas óbvias, a vantagem foi caindo até ser invertida, com direito a medalha de Quiroga no peito de Murilo e 13 a 11 no marcador. A partir daí, Murilo começou a atacar e encarar o árbitro, Bruninho já não gritava mais e Bernardinho levou uma advertência por reclamação.
Enquanto isso, os donos da casa cresciam no jogo sob os olhares atentos da torcida e o incentivo de diversos cartazes com "Vamos, Argentina" espalhados pelas arquibancadas. Pereyra entrou no lugar de Scholtis e deixou um dos principais jogadores da equipe no banco durante todo o segundo set. O oposto comandou o ataque hermano, tendo Quiroga como seu parceiro na entrada de rede. Já a defesa brasileira continuou a deixar muitos buracos, parecendo sentir falta do líbero Serginho, que operou a coluna e não pôde disputar a fase final da Liga. Com um ponto em cima de seu substituto, Mário Jr., Quiroga fechou o set argentino em 25 a 23.
Quiroga ataca para Argentina (Foto: Divulgação / FIVB)
Na volta à quadra, a derrota na parcial parecia não ter surtido efeito no time brasileiro. A equipe continuou sem vibração, com falhas na recepção e se aproveitando apenas dos constantes erros de saques dos argentinos para pontuar. A torcida local continuou incentivando e o jogo ficou equilibrado até a segunda parada obrigatória.
Durante o tempo, Bernardinho preferiu conversar com sua comissão técnica antes de falar com os jogadores. A tática deu certo e a instrução de forçar o saque para segurar o ataque adversário no bloqueio, enfim, começou a dar certo. Vissotto e Rodrigão pararam Pereyra em dois lances seguidos e deixaram o Brasil à frente do placar com 18 a 15. Em seguida, Ocampo voltou a errar no saque e a seleção viu a chance de abrir vantagem no marcador. Bruninho chamou Dante e o experiente ponteiro não fugiu da responsabilidade, acertando a mão na entrada de rede. No fim, para selar a recuperação brasileira, a bola final também foi dele, que voou atrás da linha para finalizar o set em 25 a 20.
Argentina se diverte em quadra e tenta até embaixadinha
Já na quarta parcial, a Argentina decidiu que era a hora de se divertir em quadra. Com um jogo despretensioso, sem responsabilidade do favoritismo, os donos da casa foram somando pontos e vibrando muito com cada um deles. Teve ace de De Cecco, medalha de Conte em Marlon e até tentativa de salvar uma bola com embaixadinha.
No banco brasileiro, Giba, que ainda se recupera de uma bursite no ombro direito, parecia não acreditar no que via em quadra e gritava a todo minuto com Bruninho e Mário Jr. Quando Bernardinho virou para chamar Marlon, o ponteiro achou que era com ele, chegando até mesmo a tirar o casaco. Doce ilusão. De lá mesmo, do lado de fora, o capitão viu Pereyra contar com a ajuda do bloqueio verde-amarelo para levar o jogo ao tie-break, fechando o quarto set em 25 a 19.
Na hora decisão, porém, pesou o favoritismo brasileiro. Os jogadores forçaram o saque e o bloqueio voltou a entrar. Murilo comandou a reação brasileira, com direito a ace, levando a equipe a abrir 6 a 2. Diante de um adversário desconcentrado, a seleção melhorou em quadra e venceu por 15 a 10, permitindo que aqueles cerca de 30 brasileiros deixassem o ginásio com o grito na ponta da língua: "A Argentina é nossa, aha, uhu".

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