Há quase uma década à frente da Seleção masculina de vôlei, Bernardinho diz que talvez tenha conquistado mais do que merece. Entre os 26 títulos, está o tricampeonato mundial em Roma, o mais difícil de todos na opinião do comandante, não pela polêmica envolvendo o regulamento, mas pela situação de seus jogadores, como a doença de Marlon e as lesões de Bruno e Murilo.
De volta ao Brasil após alguns dias de descanso na Itália ao lado da mulher, Fernanda Venturini, e da filha, Júlia, de 8 anos, Bernardinho falou sobre os 10 anos de vitórias e a conquista do Mundial, incluindo a decisão de poupar Bruno na derrota para a Bulgária, que deu ao Brasil um caminho mais fácil na terceira fase.
 Deu para descansar um pouco lá na Itália, após a conquista do Mundial?  
 Bernardinho: Esse período de descanso lá já estava programado.  Ficamos mais dois dias e meio na Itália e só não foi mais tempo por  causa da Vitória (sua filha mais nova, de um ano), que tinha ficado aqui  com a mãe da Fernanda. Agora, estou curtindo ela. 
 Por tudo o que aconteceu nesse Mundial ¿ a doença do Marlon, as  lesões do Bruno e do Murilo, além da polêmica envolvendo o regulamento  ¿, foi o título mais difícil nesses anos todos à frente da Seleção? 
 Foi o mais difícil, com certeza, mas pela questão dos jogadores.  Perdemos o Marlon e era uma dúvida grande se poderíamos ou não contar  com ele. O Bruno ficou totalmente sobrecarregado. Quem estava lá viu o  cansaço dele e como ele saía exausto dos treinamentos. Tivemos que  chamar um levantador italiano para treinar com a gente e meteram a boca  nisso. O rapaz, coitado, não tinha nada a ver e foi chamado de traidor. O  Bruno sentiu a coxa, ficou gripado, e o Murilo sentiu a panturrilha. 
 O Bruno começou jogando sem reserva e atuou na final lesionado. Você  até dedicou o título para ele, por tudo que ele tinha passado. Como foi  acompanhar essa trajetória dele? 
 No último dia, ele estava meio sem condições. Mas não queria começar  logo com o Marlon porque, se não desse para ele, o Bruno teria esfriado e  poderia não conseguir entrar. Ele fez um sacrifício. O Murilo sofreu  uma torção de tornozelo e continuou em quadra. O Bruno superou a pressão  toda. Como pai, fico orgulhoso e feliz por vê-lo realizar seu sonho.  Ele mostrou força como homem. O grupo todo se superou. Muita gente não  acreditava, mas eles mostraram ser um grupo forte. 
 Você acredita que o Murilo esteja seguindo o caminho do Giba, como referência para a equipe e no posto de capitão? 
 Eles têm características diferentes, mas também têm qualidades em comum.  O Giba, com toda a sua grandeza, tem sido um coadjuvante muito  importante, mostrando sua liderança e deixando o ego de lado. O Murilo  já exerce a função de capitão quando ele não está em quadra e isso está  sendo absorvido por ele. 
 A lesão dele foi mais séria do que o esperado... 
 É claro que é uma lesão que merece todo o cuidado, mas não vai  comprometer a carreira dele e em breve ele poderá voltar a jogar (Murilo  ficará três semanas afastado). Em relação aos outros jogadores,  precisariam de um tempo de recuperação depois do Mundial antes de se  apresentarem aos clubes. Assim como os jogadores têm dez, 15 dias de  folga quando terminam os campeonatos até se apresentarem à Seleção, eles  deveriam ter o mesmo tratamento na volta aos clubes. 
 O jogo contra a Bulgária foi um dos principais assuntos na chegada dos jogadores ao Brasil. Como lida com essa polêmica? 
 Infelizmente, querem polemizar em vez de olhar bem o regulamento e ver o  que os outros times fizeram. Não levaram isso em consideração. Mas vejo  andando nas ruas que as pessoas estão felizes com o título e nos dão  apoio. 
 Chegou a ser falado que o Giba, o Dante e o Rodrigão tiveram uma reunião com você para pedir que o Bruno fosse poupado... 
 O que aconteceu é que todos, inclusive da parte médica e física, queriam  que o Bruno fosse poupado porque seria um desgate para ele. Ele tinha  sentido a coxa e ficou gripado. Se ele tivesse jogado e dois dias depois  tivéssemos pego Rússia ou Cuba e ele não estivesse bem, iriam dizer que  o Bernardinho tinha arriscado o próprio filho num jogo que não valia  nada. Era necessária a preservação do jogador que não tinha uma peça  para substituí-lo naquele momento. 
 O Mário Jr. chegou a dizer que o momento mais difícil foi ter  entregado o jogo contra a Bulgária. Na chegada ao Brasil, ele disse que  foi infeliz. Como viu essa declaração? 
 Não vi o que ele falou, ele teria que comentar. Mas não pedi para  entregarem o jogo. Não quero mais ficar falando dessa história nem  polemizar. 
 Como é olhar para trás e ver tantos títulos? 
 Eu me sinto com a consciência tranquila de que fizemos um excelente  trabalho nos últimos dez anos, talvez tenhamos conseguido mais do que  merecemos. Essa geração de jogadores conseguiu uma quantidade de títulos  incomparável. O grupo merece o reconhecimento. 
 O Brasil é a melhor seleção de todos os tempos? 
 Falar em melhor implica em vários elementos. Mas, se a gente parar e  olhar em termos de histórico, de número de conquistas e de eficiência,  não há equipe que se compare. 
Fonte: Terra
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