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Santo André decreta o fim do vôlei

Uma tradição de Santo André e do esporte brasileiro chegou ao fim. A cidade que no passado concebeu o embrião que viria a transformar o Brasil no País do vôlei, não terá mais um time profissional. Em nome da reformulação e citando a falta de verbas, o diretor de Esportes, Almir Padalino, confirmou ontem que não haverá mais investimento nas divisões principais, apenas nas categorias de base e escolinhas.

Além disso, nos Jogos Regionais que serão realizados em julho - que a cidade só não disputará a Segundo Divisão porque será sede -, Santo André vai ser representada por uma equipe amadora.

Se nas últimas temporadas os times de Santo André figuravam entre os últimos colocados das principais competições nacionais - Superliga e Campeonato Paulista -, tem de se destacar a contribuição que a cidade deu à modalidade ao longo da história. Só para se dar um exemplo, na chamada geração de prata, vice-campeã olímpica de 1984, contava como Amauri, Xandó, William e Montanaro, todos jogadores de Santo André.

"O (Antonio Carlos) Moreno foi capitão da Seleção Brasileira por 17 anos, o William por 12 e o Carlão por mais sete", lembra Heitor Cozza, professor doutor em Psicologia do Esporte e ex-assistente técnico de José Carlos Brunoro na lendária equipe da Pirelli, nos anos 1980 e 1990, destacando alguns dos principais atletas que já passaram pelas equipes locais.

Pessoas ligadas ao vôlei acusam a administração municipal de má vontade com a modalidade. O diretor de Esportes, por outro lado, aponta falhas de administrações anteriores. "Precisamos começar o trabalho. Seria até um desrespeito com o passado da cidade continuar com o vôlei que Santo André apresenta atualmente, consequência de vários anos de descaso", diz Padalino, justificando o investimento na base e escolinhas.

"O vôlei da cidade está sendo reformulado a partir deste ano. A estrutura que encontramos estava falida, tentamos mantê-la, mas ficou inviável", declarou o diretor, que afirmou ter tentado, por meio de leis de incentivo fiscal, viabilizar a continuidade da equipe, mas que isso não foi possível. Padalino ainda classifica a modalidade como "o esporte mais caro, além do futebol."

A opção de trabalhar a base sem contar com um grupo principal não agrada Antonio Carlos Moreno, um dos maiores jogadores do mundo de todos os tempos e que começou a carreira em Santo André. "É necessário ter a referência. Trabalhar com esporte de base é obrigação da administração pública", afirma o ex-jogador.

 

Moreno diz que a cidade era referência já nos anos 1950

"Quando eu comecei em 1959, como gandula da equipe da cidade, Santo André já era referência do vôlei. Estou muito triste com essa notícia. Não apenas pelo vôlei, mas pelo que ocorre no esporte em geral". A declaração emocionada é de Antonio Carlos Moreno, primeiro ídolo da modalidade no País, que além de jogador, foi técnico, dirigente esportivo e até diretor de Esportes de Santo André.

Moreno lembra que em tempos passados a tradição esportiva da cidade ultrapassava fronteiras. "Nos Jogos Pan-Americanos de 1975 e 1979, 20% da delegação brasileira era composta por representantes de Santo André, entre atletas, dirigentes esportivos e técnicos. Hoje está muito diferente", relembra.

Com tristeza, o ex-jogador, que defendeu a Seleção Brasileira por 366 vezes, reflete sobre o atual momento de Santo André. "Estou vendo que a cidade perdeu o orgulho e não é apenas no setor esportivo. Os clubes estão cada vez mais recreativos e estamos perdendo os valores educacionais do esporte competitivo. Espero que as coisas mudem", afirma.

Moreno defende a qualificação dos dirigentes esportivos. como forma de trazer parceiros que possam viabilizar as equipes. "A iniciativa privada está se afastando", aponta.


Time nunca esteve fora das principais competições nacionais

A Superliga Nacional de Vôlei foi criada na temporada 2004/2005, em substituição ao Campeonato Brasileiro, e Santo André participou de todas as 16 edições. No Campeonato Paulista, também nunca esteve ausente. Marcas que destacam a importância da modalidade.

Além disso, nos tempos da Pirelli (década de 1980), o vôlei da cidade dominava as principais competições nacionais e internacionais. Nessa época, foram oito títulos estaduais (1981 a 1988), quatro brasileiros, quatro sul-americanos, dois mundiais interclubes e duas copas intercontinentais.

Quem acompanhou esta história de perto foi o jogador Orlando, que por mais de 20 anos vestiu a camisa dos times andreenses e hoje é um dos três jogadores a superar a marca de 3.000 pontos na história da Superliga. Além dele, só Ezinho e André Nascimento.

Orlando deu o toque de experiência aos garotos no que pode ter sido o último time profissional de Santo André. "É triste, pois há anos o vôlei é tradição na cidade", afirma o jogador, que foi formado nas categorias de base da Pirelli.

Orlando encerrou a temporada 2010/2011 da Superliga magoado com os dirigentes esportivos de Santo André. Principalmente pela punição de quatro jogos que recebeu no tribunal da CBV (Confederação Brasileira de Vôlei).

"Esta foi a pior parte. Sei que errei, mas estava defendendo as cores da cidade. Não foi sequer um advogado para me defender. Outros jogadores que fizeram coisa pior receberam penas menores. Eu merecia maior consideração. Falta apoio da Secretaria de Esportes", apontou Orlando.

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