Publicidade

Header Ads

Entrevista do Ary Graça ao UOL ESPORTE

Ary Graça não tem tempo a perder. Tanto que propôs que a entrevista ao UOL Esporte fosse feita no seu carro com motorista, a caminho do Detran, onde tinha que deixar a papelada para renovar a sua CNH. O presidente da Confederação Brasileira de Vôlei foi reconhecido e festejado na fila, mas relutou em aceitar furá-la.

O CASO MICHAEL

Nos playoffs da Superliga deste ano, um caso de homofobia envolvendo o central Michael, do Vôlei Futuro, ganhou as manchetes. Para o presidente da CBV, a confusão ganhou proporções exageradas:

"O que aconteceu lá foi um evento de torcida de futebol. O voleibol tem um público muito disciplinado, muito educado, muito família. Mas, sinceramente, fiquei admirado com a repercussão. Você não pode discriminar o tipo de xingamento. E na hora em que xingam a mãe do juiz, como é que faz? O voleibol não permite qualquer tipo de agressão a quem quer que seja. Porque se você fizer esse tipo de discriminação, aí, sim, é preconceito."

A entrevista, concedida no caminho de ida e volta entre a sede da CBV e o posto do Detran, foi acompanhada por um assessor de gravador em punho. “Não vá botar aí que eu disse que quem me suceder vai ter que ganhar tudo”, preocupou-se o presidente, há quase 15 anos no cargo. “Até porque o cemitério está cheio de gente insubstituível.”

Ary Graça falou sobre os dez anos de Bernardinho na seleção masculina, sobre a Superliga e demonstrou uma preocupação especial com o futuro do vôlei de praia brasileiro. Confira:

O que falta para que o vôlei de praia brasileiro ter nas Olimpíadas a mesma hegemonia que tem no Circuito Mundial?
O vôlei de praia permite que as federações cheguem a uma Olimpíada de forma mais barata, com uma ou duas duplas. O sucesso da modalidade tem despertado o interesse de muitos países. A Alemanha, por exemplo, construiu 100 quadras recentemente. A China e a Grécia, após sediarem olimpíadas, também se desenvolveram estupidamente. Brasil e EUA vêm se revezando desde 96, com uma única exceção que foi 2000, na Austrália. Mas essa hegemonia que brasileiros e americanos dividem está seriamente ameaçada.

O melhor caminho é dar ao vôlei de praia brasileiro um tratamento de seleção?
Sim, tratar como uma seleção, dar todas as condições ao jogador: fisioterapeuta, massagista, estatístico, além de um supervisor e uma área administrativa para cuidar dele. Vamos começar aos poucos a mudar a mentalidade dos jogadores. Hoje eles são completamente livres. Eles fazem o que querem, na hora que querem, do jeito que querem. Desta maneira, nós estamos ficando para trás. Nós estamos indo para Londres provavelmente com as mesmas equipes que levamos nas últimas três olimpíadas.

A ideia é convocar atletas individualmente, e não a dupla, certo? Essa ideia não pode encontrar resistência por parte dos jogadores?
Eles mesmos já trocaram de parceiro várias vezes entre eles. Você conta nos dedos de uma das mãos as duplas que permaneceram juntas por mais de cinco anos. Você teve a Shelda e a Adriana e você teve o Ricardo e o Emanuel. Hoje, o Ricardo, por exemplo, mora em João Pessoa e o Márcio, no Ceará. Tá errado? Tá! O certo é Sa-qua-re-ma. A fórmula mágica do voleibol brasileiro chama-se Centro de Treinamento de Voleibol de Saquarema.

Esse tratamento de seleção não gera duplas sem “liga”, como Ana Paula e Larissa em Pequim-2008?
Elas se reuniram 48h antes (das Olimpíadas de Pequim). Por quê? Porque nós tivemos uma Juliana machucada que durante quatro meses não definiu se ia ou não ia. No modelo antigo, quem se classificava era a dupla. Nós mudamos isso lá na federação internacional (FIVB). Agora quem se classifica é o país. Veja o exemplo da quadra. A seleção começou a trabalhar no dia 15 de maio e no dia 24 vai jogar contra Porto Rico. Ora, se você tem nove dias para ajeitar um time de 12, em que jogam seis, mas todos participam, como é que você não vai arrumar uma dupla em três meses? É o tempo que eles vão ter para treinar. Isso será aplicado em 2013, ou logo depois de Londres.

O senhor acha que os jogadores aceitariam treinar fora da praia?
Numa primeira etapa, vai ser por força de convencimento. É difícil mexer numa Larissa e numa Juliana, que têm um CT próprio. Mas nós vamos nos esforçar para convencê-las de que o palácio do nosso voleibol é Saquarema. Para se ter foco, é preciso sair do ambiente familiar. Eles precisam acordar, respirar, treinar, comer voleibol. É isso que faz o indoor. E você vê os resultados que nós temos.

Algumas duplas têm reclamado da dificuldade para conseguir patrocinadores. O que a CBV têm feito para ajudá-las?
O Banco do Brasil, durante esses 17 anos, tem sido o principal patrocinador das grandes duplas e chegou inclusive a patrocinar duplas de menor porte. O patrocínio da Supergasbrás da Larissa e Juliana quem arrumou fui eu. As pessoas precisam entender que o patrocinador quer um retorno. Ele não vai patrocinar as pessoas por uma obra social. Somos um esporte de excelência. Apesar de termos um dos maiores programas sociais do Brasil, não somos uma instituição de caridade.
"Sou um presidente ganhador, mas um dia vou ter que sair"


Este ano, na Superliga Feminina, tivemos a sétima decisão seguida entre Rio de Janeiro e Osasco. O sistema de ranqueamento, criado para manter o equilíbrio entre os times, precisa ser revisto?
O ranking vem sendo extremamente efetivo para criar um equilíbrio. Muitos clubes têm formado times maravilhosos e competitivos sem usar nem um terço do orçamento de outros. O Pinheiros chegou às semifinais com um time que teoricamente não era dos melhores. O Cruzeiro chegou à grande final sem ninguém de seleção. Certamente não está entre os quatro maiores orçamentos da Superliga Masculina. E chegou à final!

ENTENDA O RANQUEAMENTO DA SUPERLIGA
Todos os atletas recebem uma pontuação de 0 a 7. As equipes não podem somar mais de 32 pontos em todo o elenco nem contratar mais de três jogadores de 7 pontos. Para valorizar os clubes formadores, atletas que vêm da base entram com zero e não têm a pontuação aumentada ao longo das temporadas se não trocarem de equipe.

Além disso, para estimular a repatriação dos principais jogadores brasileiros, atletas trazidos de volta do exterior pelos seus antigos clubes também entram com zero. É o caso de Fernanda Venturini, que defendia o Rio de Janeiro antes de ir para o Múrcia, da Espanha, em 2007, e já anunciou o retorno às quadras para a próxima edição da Superliga.

Se alguém teve a competência para, usando o regulamento, trazê-la [Fernanda] de volta, está de parabéns. A volta dela vai jogar a Superliga para cima. Eu acho que se aposentar com 40 é muito cedo, pois eu, com essa alturinha de anão, voltei a jogar com 42 anos, disputei o campeonato carioca e tirei o segundo lugar

Pelo regulamento atual, os clubes podem inscrever apenas um atleta estrangeiro no masculino e duas no feminino. Por que o senhor defende com tanta veemência as barreiras contra os estrangeiros na Superliga?
Primeiro de tudo, meu objetivo é não tirar o emprego de brasileiros. Eu tenho que pegar os infanto-juvenis e juvenis que foram campeões mundiais e dar a oportunidade de fazer carreira dentro do Brasil. E não fazer como a Itália, que, elogiada pela imprensa de uma maneira geral durante anos, encheu a boca para dizer que tinha o melhor campeonato do mundo. E tinha. Só que acabou com a seleção italiana, que hoje é uma porcaria. Com essa política, hoje o Brasil é o país que melhor paga no voleibol mundial.

O técnico Bernardinho acaba de completar 10 anos no comando da seleção masculina. Que balanço o senhor faz desta década?
Os números falam por si mesmos. O cara só faz ganhar! Eu fiz a troca em 2001 e foi um risco que eu assumi. O resultado foi bom, hoje ele é um herói e eu acertei na minha escolha. Mas se perde, tá roubado. E eu fui o maluco que tirou o cara do feminino e pôs no masculino.

Como substituir um técnico tão vencedor?
Eu não tenho a menor preocupação com nenhum dos dois técnicos. Tanto o Bernardinho quanto o José Roberto Guimarães já demonstraram desejo em ficar. Quando nós entramos, estabelecemos filosofias e conceitos. Os dois já nasceram com esses conceitos. Nós pensamos igual em tudo. Sou um presidente ganhador, mas um dia vou ter que sair. Da mesma maneira, todos vão ser substituídos um dia. Compete a nós formar novos técnicos. Como nós somos campeões infanto-juvenil e juvenil a década inteira, acho que estamos formando novos líderes.

Em 2016, o vôlei brasileiro vai enfrentar a maior pressão de todos os tempos para conquistar o ouro no Rio. Como administrar isso?
A maneira de enfrentar isso é ter a consciência de que vamos ser pressionados. Até porque eu vou pressionar a comissão técnica, que vai pressionar os jogadores, que vão me pressionar. Falta alguma coisa ao atleta? Nada! É assim que se ganha. Com pressão, mesmo. Não tem conversa. Somos o time a ser batido. Que país do mundo tem condições de botar em quadra três, quatro seleções? Nenhum! O Brasil pode formar um time A e um time B, como o Bernardinho vai fazer este ano. São jogadores que vêm sendo moldados por nós. Veja o exemplo do tênis. O que foi feito pelo tênis depois da Maria Esther Bueno e, mais recentemente, do Guga! Nada? Você não pode ficar esperando que os atletas brotem da terra. Isso é raríssimo! Eu garanto a você que se a Polônia, a Bulgária ou a Rússia tivessem um quinto da estrutura que nós temos, nós não ganharíamos mais deles. Mas a coisa está ficando cada vez mais difícil para eles.

Postar um comentário

0 Comentários