![vôlei Raquel Peluci (Foto: Arquivo Pessoal) vôlei Raquel Peluci (Foto: Arquivo Pessoal)](http://s2.glbimg.com/ZkzC3tzV4LdJjWAQiqtkhbhFdAMs-4sLBo0M1c3q2g4kmdfUwObKxTVZ3-9uIiWH/s.glbimg.com/es/ge/f/original/2012/12/11/raquelpeluci-arq-2_1.jpg)
Bastou um mês em Istambul para Raquel Peluci ver que tinha se metido em uma roubada. Contratada pelo Sariyer Belediyesi, time recém-promovido à primeira divisão turca, a medalhista olímpica em Sydney não recebeu salários e colecionou histórias bizarras nas oito semanas em que esteve no país, como o corte de luz e água no apartamento oferecido pela equipe, além de uma avaliação errada sobre uma lesão em seus joelhos. Com prejuízo, aborrecimentos e trauma pelo breve retorno ao vôlei de quadra, a jogadora acionou a Justiça e decidiu retornar ao Brasil e às areias, onde voltará a competir a partir de janeiro, em Fortaleza.
Raquel recebeu a proposta para jogar na Turquia já no segundo semestre deste ano. Como não havia encontrado uma parceira experiente na praia para disputar a temporada 2012/2013 do Circuito Brasileiro, decidiu aceitar o desafio de voltar às quadras, onde conquistou o bronze olímpico em 2000. A proposta financeira pelo contrato até abril era tentadora e, sem perspectivas a curto prazo na praia, vinha bastante a calhar.
O clube pagou as passagens de Raquel e sua tia e as instalou em um apartamento grande e bem localizado. Mas a alegria da apresentação durou apenas uma semana. No dia 30 setembro, o primeiro pagamento não caiu na conta da atleta. A internet não foi instalada, e o transporte obrigatório parou de servir a ela e à cubana Yaima Ortiz (bronze em Atenas) no trajeto entre suas casas e o local de treinamentos.
- Depois de um mês eu vi que as coisas não iam mudar. Pensei "Que roubada!.". Achei que seria uma oportunidade de ganhar um bom dinheiro, de fazer de novo o que eu fiz bem a vida inteira. Queria dar o meu melhor porque tinham boas referencias minhas na quadra. Não queria pagar mico, mas eles tiraram meu tesão. Se hoje perguntarem se eu jogaria quadra de novo, ficaria com medo.
![Raquel Silva vôlei Turquia (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal) Raquel Silva vôlei Turquia (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)](http://s2.glbimg.com/1-6EOPfDfyyxe-ENsina5xvsDXGGuczlDByHwDPVk0E9bJENAnUp6zSRVnvjx5Di/s.glbimg.com/es/ge/f/original/2012/09/25/vol_raquelsilva3_arq.jpg_60.jpg)
Laudo duvidoso, banho de baldinho e visto vencendo
Raquel teve dificuldades de readaptação ao piso duro. Sofreu com dores e alega que não recebia qualquer apoio estrutural neste sentido. Segundo ela, não havia massagistas ou fisioterapeuta à disposição após todos os treinos, e as atividades na academia (normalmente diárias no Brasil) eram limitadas a duas sessões por semana. Por vezes a brasileira discutiu com a comissão técnica sobre a pesada carga de treinos e se recusou a fazer séries de saltos inteiras. Ouviu que era um comportamento típico de estrelismo e que não haveria uma qualquer tratamento diferenciado, apesar de ter 34 anos, idade superior à maior parte de suas companheiras.
![vôlei Raquel Peluci turquia (Foto: Arquivo Pessoal) vôlei Raquel Peluci turquia (Foto: Arquivo Pessoal)](http://s2.glbimg.com/cPvrQ8opSaTmVDhTPb2WmhPDep9Q-N_EZRx0WeYjTj4Zi3rjAddRTxaWoTPeetkz/s.glbimg.com/es/ge/f/original/2012/12/11/raquelpeluci-arq.jpg)
Quando o agente e o advogado de Raquel notificaram a Federação Turca pedindo intervenção na cobrança de salários, o clube levou a atleta para realizar exames. A ressonância magnética apontou condromalacia (desgaste de cartılagem normal em atletas de alto rendımento) nos joelhos. Mas, ao invés de oferecer tratamento, o Sariyer Belediyesi tentou rescindir o contrato da brasileira oferecendo apenas um mês de salários. A essa altura já deviam dois meses, além de outras despesas com as quais a atleta arcou e cujas notas fiscais guardou. Entre os gastos estavam o pagamento de contas de luz e água, que deveriam ter sido quitadas pelo clube, conserto da máquina de lavar, que deu defeito e alagou o apartamento, além de tratamento médico particular.
Para embasar sua argumentação, Raquel se consultou com um renomado médico em Istambul e obteve laudo contraditório em relação ao apresentado pelo clube. Sua lesão era comum entre jogadores e precisaria apenas de um planejamento adequado para que a recuperação fosse plena e pudesse exercer normalmente a profissão. Questionado pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB), o clube turco tentou novo acordo com a brasileira. Mas já era tarde, e a jogadora já havia acionado a Justiça.
- Gastei todas as minhas economias para sobreviver lá. Se eu não tivesse levado dinheiro, poderia ter ficado sem comida. Eles só me pediam paciência e em momento nenhum demonstraram profissionalismo. Fiquei num apartamento às escuras, tive que tomar banho de baldinho. Minha tia tem 78 anos e passou mal quando nos deram 24 horas para deixar o apartamento. Passei por mil situações desagradáveis e estou traumatizada. Sendo que nem meu visto de trabalho foi regularizado. Ou seja: se ficasse mais um mês lá, ainda ficaria como imigrante ilegal – contou.
Toda a operação foi intermediada pelo agente Nejat Sancak, que havia cuidado da transferência da atleta para o Zarechie Odintsovo, da Rússia, em 2005. Segundo Raquel, Sancak também ficou sem receber. O SporTV.com tentou contato por e-mail e telefone com o Sariyer Belediyesi, mas não obteve sucesso.
![vôlei Raquel Peluci turquia (Foto: Arquivo Pessoal) vôlei Raquel Peluci turquia (Foto: Arquivo Pessoal)](http://s2.glbimg.com/qrqu2Cr89hgpW-5R-DUIZB28Ymnhsm0O317l6N0Els5J6TSOAr8lnty0u_uZbp8M/s.glbimg.com/es/ge/f/original/2012/12/11/raquelpeluci-arq-1.jpg)
De volta à praia, Raquel jogará com Josi
Quando percebeu que o fim de sua passagem pela Turquia era questão de tempo, Raquel passou a acompanhar mais de perto a movimentação do mercado da praia. Soube que Josi estava disponível e ligou para a catarinense. Acertaram a parceria e vão estrear juntas na etapa de Fortaleza do Circuito Brasileiro 2012/13. Só ainda não sabem se no Nacional, torneio classificatório, ou no Open, que reúne a elite do vôlei de praia.
- Não vejo a hora de virar a página. Conversei com umas pessoas e me disseram que a Josi jogou muito bem esta primeira parte da competição, e espero que a gente dê certo juntas. Quero voltar logo para a praia, onde as dores e os sacrifícios são menores do que na quadra. Quero voltar a ter prazer em jogar.
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