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Aposentado do vôlei de praia, Franco trabalha em campeonatos da CBV


Franco Neto disputou torneios internacionais de vôlei de praia por 24 anos. O último foi em 2011
A voz mansa e pausada é um indicativo de que experiência não falta. Essa mesma voz faz questão de contar cada detalhe da carreira. Com 46 anos e mais de 30 dedicados ao vôlei, Franco se retirou das quadras em abril deste ano. Conquistas não faltaram ao agora ex-jogador. Foram dois títulos do Circuito Mundial, quatro do Circuito Brasileiro, medalha de bronze nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg (Canadá) em 1999, dentre outros.

Com tanto tempo vivendo o vôlei de praia, a decisão de parar não foi das mais fáceis e Franco ainda tenta se acostumar com a nova vida. Morando no Rio de Janeiro, o ex-atleta não se desvencilhou completamente do esporte que tanto ama e ajudou a popularizar no Brasil nos anos 90.

Ele hoje trabalha em parceria com a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) na organização do Campeonato Brasileiro de Seleções nas categorias sub-19 e sub-21, além de fazer uma pós-graduação em marketing esportivo.

"Planejo no futuro trabalhar com treinamento de categorias de base. Errei muito durante minha carreira por não ter referência. Quero dar esses conselhos aos que estão começando. Quero sair pelo Brasil dando palestras para que as pessoas vejam que o esporte é uma ferramenta importante", explica.

A vida na capital fluminense não tira de Franco o desejo de um dia voltar a Fortaleza, mas o ex-atleta diz não acreditar que um retorno à cidade onde nasceu e cresceu aconteça em um futuro próximo.

"Tenho um carinho enorme por Fortaleza. Levanto a bandeira cearense por onde vou. Infelizmente, as condições do esporte no Estado ainda são muito precárias. Espero voltar para Fortaleza. Só faz sentido voltar se houver convite", afirma Franco, sobre um eventual chamado para trabalhar com esporte no Ceará.

Falta a despedida

Se não for para trabalhar, Franco sonha em, pelo menos, retornar à terra natal para uma festa de despedida. "Não tive uma festa de despedida. Tenho vontade realizar uma em Fortaleza, seria um sonho. Um jogo-exibição mesmo. Falta só quem organize", desafia.
CONFIRA A ENTREVISTA COMPLETA COM FRANCO

O POVO: Depois de tanto tempo dedicado ao vôlei, dá pra lembrar como foi o começo de tudo?

FRANCO: Na época, era tudo muito novidade, (o vôlei de praia) era um esporte novo. Acabei começando junto com ele. Isso era 1985 ou 1986. Comecei aos 16 anos no vôlei de quadra. Em 1982, saí do colégio Santo Inácio e fui estudar no Cearense. Antes jogava futsal, mas no Cearense, já havia três goleiros. Como tinha boa estatura, fui apresentado ao treinador Paulo Buarque que acabou sendo também meu primeiro técnico na praia.

OP: E como foi esse primeiro contato com o vôlei na quadra?

F: A primeira vez foi ótima. O esporte proporciona sociabilidade e me adaptei bem por causa da estatura. Minha primeira competição foi o Maristão (Olimpíada dos colégios da rede Marista). Não foi tão bom porque na primeira partida quebrei o braço. Me choquei com um companheiro e acabei fraturando um osso. Tentei continuar, mas tive que ir para o hospital. Ficar vendo os colegas na arquibancada me deu uma sensação de impotência enorme. Em 1984, meu pai me proibiu de jogar em razão do vestibular. Fiquei seis meses longe das quadras. Fiquei muito triste. Mas voltei quando passei para o curso de Agronomia na UFC.

OP: Não demorou muito para começar a jogar profissionalmente..

F: Foi nessa época que comecei a jogar no time da Caixa que era uma equipe estruturada e pagava uma ajuda de custo. Foi lá que tive o primeiro contato com o Roberto (Lopes). Ele já era uma referência, um dos melhores jogadores da região.

OP: E como foi o começo no vôlei de praia?

F: A gente frequentava a Volta da Jurema, onde o pessoal já naquela época batia uma pelada. Ficava na calçada assistindo e querendo me entrosar. A primeira foi horrível. Fui tão ruim que fui vetado, mas não desisti. Anos depois, o pessoal me confessou que quando me via chegando , já ia tirando o time para que eu ficasse de fora.

OP: Dava para tirar algum trocado no começo na areia?

F: Comecei a jogar uns torneios. As premiações eram esquisitas como um jantar em uma churrascaria, por exemplo. Isso era em 1987/1988. Eu ainda não jogava com o Roberto. Eu formava dupla com o Franklin e o Roberto com o Clésio.

OP: De quem foi a ideia de formar a parceria com o Roberto?

F: Eu andava nos mesmos points que o Roberto e uma vez resolvemos jogar juntos. Fomos vice-campeões em Recife em 1989 e disputamos uma etapa do Campeonato Brasileiro no Rio de Janeiro. Ficamos em 11º entre 32 duplas. Contávamos com apoio do Clube do Vôlei e de um frigorífico chamado Fazendinha.


No começo de tudo, ao lado de Roberto Lopes

OP: Em um esporte que apenas engatinhava não devia ser fácil treinar e se manter dele...

F: A gente fazia o que podia para treinar. Aproveitava os intervalos da faculdade enquanto o Roberto escapava da farmácia que ele tinha. Geralmente, nós iamos meio-dia lá para a Jurema, sob o Sol quente mesmo. O objetivo era disputar um Campeonato Mundial.

OP: Quais foram os primeiros bons resultados em competições importantes?

F: Em 1990, ficamos em 5º no Brasileiro no Rio e em 3º no Mundial, atrás apenas dos americanos, que eram hegemônicos. A gente chegou impactando. Começamos a viajar por Japão, França e Itália. Em 1991, aconteceu o primeiro Circuito Banco do Brasil, com cinco etapas e calendário cheio.

OP: Em 1993 veio o primeiro título mundial. Você e o Roberto quebraram uma hegemonia das duplas dos EUA. Qual a importância disso?

F: Até 1993, só os americanos tinham ganho o Circuito Mundial e fomos os primeiros brasileiros a vencer o Mundial. Eles tinham grandes jogadores como o (Karch) Kiraly, considerado o maior jogador de vôlei de todos os tempos), o (Sinjin) Smith e o (Randy) Stoklos. Fomos ganhando projeção

OP: Foi a conquista mais importante?

F: O título de 1993 foi marcante, porque no meio da temporada, eu perdi meu pai por volta de maio e o Roberto perdeu a mãe em junho. Mesmo assim, veio a superação e transferimos a dor em motivação. Sem dúvida, esse foi o momento mais marcante da carreira por conta da adversidade. O título foi muito gratificante. Fomos recebidos em carro de Bombeiros quando chegamos a Fortaleza. Em 1995 veio o segundo título mundial e a chance de disputar a Olimpíada de Atlanta no ano seguinte. Representar o Brasil nos Jogos Olimpícos foi muito gratificante.

OP: Vocês chegaram a Atlanta como favoritos ao ouro. Qual o peso da frustração da derrota?

F: A gente sempre busca explicações para a derrota. No momento você não encontra resposta, mas depois que passa, você vê que nós não tinhamos referência. Não demos foco na preparação, fomos mal assessorados e nos deixamos levar pela imaturidade. No Brasil, Olimpíada é acompanhada de muita cobrança. Os brasileiros cobram muito. Nós nos cobramos também porque é uma oportunidade de melhorar o lado financeiro. Entretanto, a experiência de Atlanta foi boa porque acabamos nos tornando referência para outros atletas como a Shelda. E eles trabalharam melhor isso.

OP: Qual era o plano para tentar dar a volta por cima?

F: Fomos convidados para jogar nos EUA para disputar o circuito americano. Isso foi bom porque voltamos a ter auto-estima. Eles nos chamaram porque iamos engrandecer o nível técnico do torneio deles. Nós estávamos preocupados porque tinhamos que dar a volta por cima após a queda. Em 1999, conseguimos a medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos.

OP: Depois de tantos anos e títulos com o Roberto, como a dupla se desfez?

F: Em 2002, acabou o ciclo da dupla. O Roberto estava em busca de novos objetivos. Depois de muitos anos, é natural ocorrer o desgaste da convivência. Foi muito íntegro da parte dele chegar e dizer que não estava mais motivado. Até hoje nos falamos frequentemente e temos uma amizade muito bacana. Na época fiquei me questionando muito se eu iria conseguir dar continuidade às vitórias e a minha carreira sem ele. A solução foi continuar com a mesma determinação. Eu tinha que buscar mais coisas.



OP: Outra separação na época foi deixar Fortaleza..

F: Em 2004 fui morar no Rio de Janeiro. Recebi o convite do Tande, que já estava jogando na praia desde 2000, e fomos fazer um trabalho para um ciclo olimpíco. O trabalho foi muito bom e fomos campeões brasileiros e vice-campeões mundiais naquele ano mesmo. Até que em 2005 não fomos tão bem e resolvemos desfazer a parceria. Fui jogar com o Pedro (Cunha) e também foi muito bom porque vencemos uma etapa do Circuito Mundial em 2007 (Marselha, França) e, com 41 anos, fui o jogador mais velho a conseguir isso. Joguei ainda com outros parceiros como o Nalbert e o Bruno Schmidt.

OP: No esporte, um dos momentos mais difíceis para o atleta é a hora de parar. Como foi essa decisão para você?

F: Fui passar o reveillón de 2013 com meu sogro, na praia da Barra. Tinha passado o dia 31 mal, com febre. Tomei um tylenol e melhorei um pouco. Voltando para casa, por volta de duas da manhã, comecei a sentir febre de novo, mas achei que ia passar. No elevador, passei mal mais uma vez. A porta do elevador abriu e eu estava desmaiado. Acabei caindo e bati a cabeça na quina de uma coluna. Tomei 24 pontos, quebrei o nariz e dois dentes. Só depois descobri que estava com pneumonia e tive que passar dois internado. Refleti muito durante a semana seguinte que fiquei de molho em casa. Já estava com 46 anos e nunca deixei de jogar por lesão. Alguns amigos falaram que era hora de parar. Fui desmotivando.

OP: E como é a vida do aposentado Franco?

F: No momento, estou fazendo uma pós-graduação em marketing esportivo. Além disso, organizo com a Confederação de Volei (CBV) um campeonato de seleções sub-19 e sub-21. Mas não sou funcionário da Confederação. Estou apenas como colaborador.

OP: E o futuro?

F:
Planejo no futuro trabalhar com treinamento de categorias de base. Errei muito durante minha carreira por não ter referência. Quero dar esses conselhos aos que estão começando. Quero sair pelo Brasil dando palestras para que as pessoas vejam que o esporte é uma ferramenta importante.

OP: Pretende um dia voltar a Fortaleza?

F: Tenho um carinho enorme por Fortaleza. É minha terra. Levanto a bandeira cearense por onde vou. Infelizmente, as condições do esporte no Estado ainda são muito precárias. O trabalho local precisa ser melhor. Mas creio que tem tudo para melhorar. O Governo do Estado tem um projeto de esporte na minha cidade. Os jovens precisam ter ídolos. Os ídolos não podem cair no esquecimento. Infelizmente, no Brasil não temos memória. Quando jogava nos EUA, via alguns velhinhos serem ovacionados em uma arena lotada. Espero voltar para Fortaleza em breve. Só faz sentido voltar se houver convite.

OP: E quais os sonhos do Franco?

F: Não tive uma festa de despedida. Seria show fazer uma despedida. Tenho vontade realizar uma em Fortaleza. Um jogo exibição mesmo. Falta só quem organize.

OP: Com tantas viagens, como família lidou com sua carreira?

F: A minha família foi fundamental na minha carreira. O atleta profissional é um ser humano como qualquer um. Temos alegrias, tristezas. Setimos todas as emoções. São criados rótulos nas pessoas públicas que acabam sendo mais cobradas. Não é fácil. Em casa, todos sempre me deram muito suporte. Passei por vários problemas e eles sempre estiveram ao meu lado. Roubei a energia da casa toda. Incentivo meu filho Bruno, de 16 anos, a praticar esportes. Hoje o computador é um grande concorrente à prática esportiva. Hoje é difícil praticar esportes, pois a concorrência é muito forte. Estimulo meu filho pela saúde dele, mas ele não que nada com o vôlei. Só quer saber de musculação.


OP: Depois de tantos anos no circuito, boas histórias não devem faltar...

F: Em 1990, fomos jogar no Japão. Naquela época era uma tortura viajar para lá. O pessoal ainda fumava dentro do avião. Depois de dois dias de viagem, estávamos chegando ao hotel, quando sentimos o elevador balançar. Tivemos a sensação de que o prédio todo estava balançando. Depois descobrimos que aquilo foi um terremoto e ficamos assustados com a naturalidade que eles encaravam tudo aquilo. Outra vez ficamos 15 horas na sala de embarque do aeroporto de Londres porque não falávamos nada de inglês e não sabíamos para onde ir.Na primeira vez que fui para o Rio, quase fui atropelado em Ipanema porque não sabia que em determinada hora, o sentido dos carros na avenida mudava. Em 1991, fomos jogar em Berlim e aproveitamos para conhecer o muro. Tinha umas pessoas vendendo umas pedras dizendo eram partes do muro que tinha acabado de cair. Achei aquilo sem sentido. Podia chegar em Fortaleza com qualquer pedra dizendo que era do Muro de Berlim e todo mundo ia acreditar.

Curriculum
- 2 Vezes campeão do Circuito Mundial (1993 e 1995)

- 16 vitórias em etapas do Circuito Mundial:
Com Roberto Lopes
Enoshima (JPN) - 1993 e 1995
Rio de Janeiro - 1994 e 1996
Fortaleza - 1994 e 1995
Marbella (ESP) - 1995
Clearwater (EUA) - 1995
Pusan (COR) - 1995
Espinho (POR) - 1995
La Baule (FRA) - 1995
Marselha (FRA) - 1996
Jacarta (IND) - 1996


Com Harley Marques
Berlim (ALE) - 2003

Com Tande
Cidade do Cabo (AFS) - 2004

Com Pedro Cunha
Marselha (FRA) - 2007

- Medalha de Bronze nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg (Canadá) em 1999.

- 4 vezes Campeão do Circuito Banco do Brasil (1993, 1999, 2004 e 2007)

- Jogador mais inspirador do Circuito Mundial (2006 e 2007)

- Personalidade do Ano pela FIVB (2007)


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