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Entrevista com a ponteira Érika, que critica set de 21 pontos: 'Não vi tantos jogos transmitidos'

Ao lado de Paula Pequeno, Érika comanda o time de Brasília na Superliga feminina de võlei

A ponteira Érika Coimbra passou quatro temporadas atuando no vôlei internacional, mas se cansou. Cansou do frio, de ter que se comunicar em outros idiomas e de ficar longe dos amigos e da família. Resolveu retornar ao Brasil e, mesmo recebendo menos do que nos últimos anos, aceitou proposta do recém-criado Brasília para disputar a Superliga, competição da qual é uma das maiores pontuadoras da história.

No retorno ao Brasil, porém, a jogadora encontrou uma mudança significativa no mode de disputa da competição. Em 2013, a Superliga testa sets com apenas 21 pontos, mudança feita a pedido da televisão - que quer jogos mais rápidos - e que não agradou em nada Érika. Ainda que ela tente fugir do assunto. "Não achei interessante em nenhum quesito, mas nem posso ficar dando opinião porque sei que isso causa polêmica".

Divulgação

Você retornou à Superliga nesta temporada depois de quatro anos consecutivos fora, em que jogou na Turquia, no Azerbaijão e na Polônia. Por que tomou essa decisão?
A vontade de voltar foi mais pessoal. Por causa da família e dos amigos. Estava há quatro anos fora e sentindo falta de viver aqui. Na última temporada, fiquei nove meses na Polônia, oito deles com temperatura a -25ºC. Precisava um pouco desse calor do Brasil, de jogar o vôlei daqui, que é mais bonito do que o lá de fora.

Foi a proposta do Brasília que te fez pensar em voltar ao País ou o contrário? Primeiro decidiu que retornaria ao Brasil e daí surgiu o convite?
As pessoas já sabiam que eu queria voltar e quando apareceu o convite deles, pelo projeto, pelas pessoas que iam trabalhar, já aceitei. Quase nem fiz contraproposta.

Houve proposta de algum outro time?
Oficial, só essa. Tive outros convites, mas não foram interessantes, então não considero oficiais.

Você disse que na decisão para aceitar o convite de Brasília pesaram os nomes das pessoas que estão comandando o projeto, que tem a Leila como principal nome...
Com certeza, você sabe que é uma coisa séria, que não será molecagem, até pela correria que teve de organização, e hoje o vôlei é muito profissional no Brasil. Mas o principal é que eu queria mesmo voltar, queria jogar aqui. Ainda estou jogando bem e acho que no dia a dia tenho tem trabalhado e provado isso daí.

E o que você vê de principal diferença entre o vôlei nos últimos países em que jogou e no Brasil?
Na Polônia, o vôlei é o primeiro esporte, então existem algumas que aqui são como o futebol. O carro que me davam lá era um Volvo, tinha outdoor meu do tamanho de um prédio de 20m no meio da cidade, as pessoas pintam a cara para ir ao jogo. Eles amam o vôlei e investem. Eu fui capa de revista, coisas assim. No Azerbaijão, é um vôlei muito forte porque se contrata dez estrangeiras e tem muito dinheiro, mas é um pouco bicho ainda. Manda quem tem dinheiro, tem só um ou outro clube que é organizado. E a Turquia foi encantadora. Eu joguei na Itália também quando era o maior campeonato do mundo e a gente está ali entre eles todos.

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Érika passou quatro temporadas longe do vôlei brasileiro

Uma das mudanças que você está enfrentando é o set de 21 pontos, que está em teste na Superliga. O que achou disso?
Não achei interessante em nenhum quesito, mas nem posso ficar dando opinião porque sei que isso causa polêmica. Primeiro, não aumentou em nada a transmissão na TV. Não vi tantos jogos assim transmitidos. Está mudando por qual motivo? Eu acho que o jogo fica muito rápido, sem chances de recuperar, é bem complicado. Além da paixão dos fãs. A pessoa espera seis meses para ver um jogo e vê rapidinho. Mas faz parte. O vôlei mudou muito nesses últimos anos. Só acho que a gente podia repensar essa mudança.

No Brasília você tem como companheira a Elisângela, atleta que duela com você pelo recorde de pontos da Superliga. Ela jogos os últimos dois anos pelo Sesi e bateu a marca que antes era sua...
Não tem rixa, não. Primeiro que minha função em quadra é completamente diferente da dela. A Elisângela só ataca, ela tem que fazer mais pontos do que eu, obviamente, que tenho que fazer passe, bloqueio, todas essas coisas também. E é uma grande amiga, irmã, uma pessoa que eu amo. Não existe uma competição nessa questão até porque eu prefiro que ela faça mais pontos e eu passe mais na mão e que aí a coisa vá junto. Mas com certeza é uma honra

Mas este é um assunto que surge em conversas e brincadeiras entre vocês?
A gente nunca parou para falar sobre isso, até porque nem se lembra. É difícil explicar, mas a gente está o tempo todo junta e não se lembra de falar sobre isso. Para mim, o importante é o time ganhar. Posso ser a última pontuadora, mas com a vitória.

Poder brigar por recordes é algo que te motiva na carreira?
Não. Tenho na minha casa um espaço em que ficam meus troféus de melhor saque, melhor defesa, melhor não sei o que, de campeã. Logicamente você vê aquilo tudo e fica feliz, mas sou bem completa. Fico feliz de ver que conquistei história, mas não fico pensando 'ai tenho que ganhar aquilo'. Eu falo isso porque sou assim mesmo. Não sou daquelas que dão entrevista falando que são humildes e não são. Eu sou bem desligada. Se deixarem eu e o Bob Marley, moramos um do lado do outro.

O time de Brasília foi criado faltando pouco tempo para a Superliga e chamou a atenção ao contratar você, a Paula Pequeno e a Elisângela. Como é liderar essa equipe, que até agora tem duas vitórias e quatro derrotas?
Eu sempre tive isso. Para mim a coisa mais normal do mundo é liderar um time. Eu cheguei à seleção com 17 anos, fui para as Olimpíadas pela primeira vez com 19. No decorrer dos anos, sempre tive liderança, então faz parte. A Paula está comigo e a gente sabe da responsabilidade que tem com o nome, mas sabe também das limitações do time. Tem um tripé, mas existem algumas peças ali... A gente não pode obrigar um time com todas essas peças a ser campeão logo de cara. A gente tem que trabalhar, tentar melhorar e chegar naquele objetivo que é possível para a gente.

E qual é esse objetivo?
Hoje eu penso que é classificar entre os oito. Primeiro vou pensar nisso. É uma meta possível, lógico, mas vamos ter que trabalhar e mostrar em quadra. Acho que ainda precisamos melhorar em tudo, todo mundo tem que saber que precisa dar mais. Algumas jogadoras ali nunca jogaram uma Superliga completa, ainda estão pegando ritmo, aprendendo a jogar. A gente tem que melhorar em tudo e ir ganhando ritmo.

Você é uma atleta que tem um bom histórico na seleção, inclusive com um bronze nas Olimpíada de Sydney-2000. Como tem acompanhado esse time do Zé Roberto, campeão dos dois últimos Jogos?
A seleção cresceu muito e não vejo outras grandes seleções, só uma ou duas jogadoras em cada time, a gente tem as 12, ou até 13, 15, 20 jogadoras fortes. Fico muito feliz porque a gente depende da Seleção pelos resultados para ter patrocínio, Espero que mais coisa apareça porque a gente ganha, ganha, ganha e ainda falta um monte de coisas. Precisamos de mais patrocinadores e mais equipes porque nesse ciclo olímpico será muito importante ter todo mundo jogando em casa.

O Zé Roberto Guimarães levou de volta à Seleção agora a Walewska e a Carol Gattaz, duas atletas experientes e que estavam fora do time. Você aceitaria voltar?
Érika: Seleção é sempre Seleção. Hoje torço muito pelas meninas que estão lá. A Thaisa machucou e a Walewska está em alto nível como sempre, a Carol Gattaz também é uma das minhas melhores amigas. Não é uma coisa que eu programe, mas se acontecer, com certeza. Quem não vai jogar pelo seu País? Se fosse anos atrás, eu não iria querer. Depois das Olimpíadas de Atenas falei que não queria mais. Aí voltei em 2007, mas não queria pelo cansaço porque amo vestir a camisa amarela. Hoje não faz parte dos meus planos, não treino para ir para a seleção.

Antes do Campeonato Sul-americano houve uma polêmica porque as jogadoras viajaram para o Peru de classe econômica e existia um acordo que as campeãs olímpicas teriam classe executiva à disposição. O que achou disso?

O que é combinado não sai caro. Não tenho opinião para dar sobre aquilo, mas pela foto sei que a Thaísa foi igual uma sardinha. Pelo menos foram só cinco horas, a gente ia 30 horas lá atrás espremida para o Japão, por exemplo. Mas a gente conseguiu abrir esse espaço todo para elas. Porque tudo que elas conquistaram com certeza teve uma geração passada por trás.

Você passou por muitos países diferentes e não é incomum atletas viverem situações engraçadas por conta das diferenças de cultura. Teve isso?
Nossa, situações constrangedoras foram várias. Na Turquia eu fui jantar, na mesa tinha um monte de mulçumano, e eu fui lá pegar na mão de um deles e puxar para dar um beijo no rosto. Quase uma guerra, né. Eu falava 'o que aconteceu?' porque ficou todo mundo espantado. Teve muita coisa. Já dirigi na neve e por não estar acostumada o carro rodou na pista. Cultura é uma coisa bem diferente. Mas com o tempo, as coisas facilitam para você. Foi um intercâmbio que o esporte me deu.

Você não sofreu muitas contusões durante a carreira, mas quando jogava no Azerbaijão teve uma pouco usual. Pode explicar o que aconteceu?
Você está em um país em que seu médico só fala russo ou azeri, não fala inglês. Aí você toma uma trombada, uma joelhada comum, e sua canela começa a inchar, você não sabe o que está acontecendo. Beleza, normalmente incha. Mas no dia seguinte, minha perna estava gigante e a gente tinha um jogo na Liga dos Campeões em Milão. E peguei 5 horas de voo. Como tem pressão no avião e o corte pegou uma artéria, deu uma trombose, mas eu não sabia.

Você descobriu essa trombose em uma consulta na Itália mesmo...
Cheguei lá com a perna gigante. E as meninas do meu time que jogavam em outras seleções ficaram falando para eu procurar um médico, aproveitar que estava na Itália, porque ficou muito inchado. E o Maicon, da Seleção, é muito meu amigo há mais de dez anos. Pedi para ele um médico, que foi o Dr. [Franco] Combi, diretor do departamento médico da Inter de Milão. Ele olhou minha perna e falou que ia ter que abrir. Acabou que conversei com ele de noite e às 8h da manhã estava na sala de cirurgia porque eles não autorizavam eu vir para o Brasil porque poderia estourar no avião e aí eu teria risco de vida, em último caso. Mas 15 dias depois da cirurgia, como foi só uma artéria, eu já podia voltar para a quadra.

Só que você retornou para o Brasil depois dessa contusão.
Decidi voltar porque meu time não queria me pagar até que eu melhorasse, então vim embora. Fiquei seis meses aqui me tratando. Lá tem umas coisas estranhas. Eles não depositam o salário na sua conta, te levam em uma sala e te dão um maço de dinheiro. Antes disso, não tive nenhum problema com o time, mas não recebi meus últimos quatro meses de salário. Nem entrei na justiça porque não daria em nada.

Na Polônia, você chegou a fazer fotos para capa de revista. Gostou do trabalho de modelo?
Érika: Sempre gostei, adoro tirar foto, como toda mulher. Sempre quis ser modelo, como toda mulher. Sou bem feminina por esse lado. Quando tem um tempinho e alguém convida, eu sempre faço. Agora estão aparecendo mais oportunidades para as garotas do vôlei, até pelo próprio esporte, que é mais delicado para as mulheres porque você pode prender o cabelo, passar maquiagem, não tem problema.

Muitas jogadoras que fazem esse ensaios dizem que é uma maneira de chamar a atenção para o esporte, mas também há reclamações de que as atletas do vôlei só despertam atenção da mídia em sessões de foto...
Isso daí eu acho meio... Se você tira a foto é porque você gosta de estar ali, se sentir bonita de as pessoas te verem, de aparecer. Não vem inventar nenhuma desculpa. Sou bem direta neste ponto. Claro que você aparecer faz falarem do vôlei, mas ninguém faz uma foto de capa de Playboy ou VIP falando que vai chamar atenção para o vôlei. É até estranho. Para chamar atenção para o esporte, tem que ter resultado. E isso a gente tem bastante. Aparece em capa quem gosta, quem quer e é convidada. Escuto um monte de gente falando 'ai, eu sou tímida e fiz as fotos'. Eu vejo lá nas fotos e penso 'nossa, uma timidez, né'. O Brasil inteiro está vendo tudo. Quem faz é porque gosta.



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