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Técnico do Vôlei Amil fala sobre futebol e Copa do Mundo

Zé Roberto lamenta os atrasos nas obras do Mundial e espera que, pelo menos, o Brasil tire lições e não repita os erros na Olimpíada

O técnico José Roberto Guimarães é uma lenda do esporte brasileiro. Medalha de ouro com os meninos do vôlei em 1992 e com as meninas em 2008 e 2012, o único campeão olímpico do planeta no comando de seleções dos dois sexos já se emociona só de pensar na possibilidade de repetir, no Rio de Janeiro, os feitos que alcançou em Barcelona, Pequim e Londres. Mas, antes disso, ele está pronto para vibrar com outro esporte, na condição de um torcedor quase comum.

O técnico da Seleção Brasileira feminina adora futebol e aguarda com expectativa pelo início da Copa do Mundo. Fala com otimismo sobre as chances do time de Felipão, explica porque acredita em bons desempenhos de Julio Cesar e Fred e aponta a Argentina como outra grande favorita ao título. Também como um torcedor quase comum, lamenta o atraso do País nas obras do Mundial e espera que todos esses problemas, ao menos, sirvam de exemplo para a organização da Olimpíada de 2016, na qual, mais uma vez, será protagonista.

Antes do treino da última quinta-feira (3) do Vôlei Amil, semifinalista da Superliga, Zé Roberto revelou seu olhar sobre a Mundial nesta entrevista que marca o lançamento do Caderno Copa do Correio.

Quais são seus dois maiores favoritos ao título no Mundial?

Brasil e Argentina. Nós vamos jogar em casa, temos um bom time e uma torcida apaixonada. Os hermanos nos conhecem bem e o fato de a Copa ser no Brasil vai motivá-los ainda mais.

As seleções mais fortes da Europa terão chances menores na América do Sul em virtude do clima?

O clima também pesa, mas os argentinos estão muito perto daqui e isso vai fazer diferença.

Messi também contribui para esse favoritismo?

Sem dúvida. Vive um momento especial da carreira, tem muita força física, tem muita técnica. Pode desequilibrar.

Em dezembro, Felipão deu uma declaração pouco comum. Normalmente, os treinadores não assumem favoritismo e, quando possível, o transferem para o adversário. Felipão foi além de se posicionar como favorito e afirmou que o Brasil será campeão do mundo. Como treinador, que mensagem você acha que ele quis transmitir com essa declaração?

Felipão acredita no título e acho muito importante essa postura dele. Porque ele sabe que, se perder, e eu nem gostaria de falar sobre isso, mas é uma possibilidade, todos vão ser massacrados. Nós estamos no Brasil... Então, acho que ele adotou uma postura extremamente correta, dando a cara a bater, dizendo que nós vamos ganhar a Copa no Brasil. Ele confia muito no grupo que tem.

Você acredita que aquele clima de confiança e apoio da torcida na Copa das Confederações o levou a assumir o favoritismo? Felipão estaria tentando reeditar aquele ambiente para o Mundial?

Exato. Acho que ele vai conseguir reeditar aquilo na Copa. É um técnico que sabe fazer como ninguém esse movimento. É importante esse sentimento de patriotismo e de envolvimento da equipe numa competição do nível da Copa do Mundo.

Tudo indica que Felipão vai escalar Julio Cesar, um goleiro que fez uma grande Copa das Confederações, mas depois não ficou nem no banco de um time da 2ª divisão inglesa. Agora está no Toronto, levando uns gols esquisitos. Como torcedor, te preocupa ter um atleta de uma posição vital nessas condições técnicas, em um torneio no qual o Brasil vai enfrentar os melhores atacantes do mundo, que finalizam com muita qualidade?

Não... Tem algumas posições que são chaves, como a de goleiro, que vai muito da confiança do técnico. E o jogador, por sua vez, sente quando o treinador lhe dá essa responsabilidade e tem essa confiança nesse jogador. O Julio, com o Felipão, fica muito à vontade. Ele cresce, acredita, tem uma postura diferente.

Nesse aspecto, você considera a “família Scolari” importante para fazer com o que jogador sinta que faz parte do grupo e confie no treinador?

Eu acho. O grupo tem que se fechar nesse momento da Copa, tem realmente que ser uma família. O jogador sabe que um tem que correr pelo outro. Eles vão passar dificuldades, mas as atitudes precisam estar firmes e coerentes com o propósito de ganhar a Copa. O jogador brasileiro hoje já tem uma consciência do significado de tudo que vai acontecer. Eles já estão se preparando há algum tempo.

A Copa das Confederações então foi preciosa nessa preparação?

Demais. Ter a experiência de jogar no Brasil foi importante porque a torcida é exigente, quer que o time jogue um bom futebol, que o time se comporte bem em campo contra qualquer adversário. Essa experiência foi muito positiva. Foi um treinamento para a Copa do Mundo em termos de torcida, de comportamento, de técnica e tática.

Como você disse, o torcedor brasileiro é muito exigente. Você esperava que ele ficasse tão ao lado da Seleção como na Copa das Confederações? Aquele envolvimento na hora do Hino e durante os jogos?

Eu sempre espero um comportamento assim do torcedor brasileiro, em todas as modalidades. O brasileiro ama e venera esporte. E quando ele sente que o time está indo, está buscando, está tentando, ele vem junto. Foi assim na Olimpíada de Londres. Eu senti muito isso de perto. Quando a torcida percebeu que nós tínhamos time para brigar, aí começou a puxar o “campeão voltou, o campeão voltou”. Isso foi importante porque nós passamos a acreditar mais. Eu vejo da mesma maneira na Copa. Todo mundo está com uma esperança muito grande. No futebol, fica todo mundo esperando quatro anos pela próxima Copa. Agora faltam menos de 70 dias. Então...

Vamos a outro jogador de uma posição-chave: Fred. Também foi bem na Copa das Confederações, mas depois teve lesões e vem sendo vaiado no Fluminense. Você deposita nele a mesma confiança que tem no Julio Cesar? Felipão está certo de dar a ele a camisa 9?

O Felipe tem essas coisas... Ele acredita nesses jogadores e passa confiança pra eles. O Fred teve um ano excepcional em 2012. Teve um ano de 2013 com lesões, mais apagado e com vários problemas, mas é outro que vem se preparando psicologicamente para esse momento já há algum tempo. Ele sabe que ele vai ser cobrado para fazer gols e ser o artilheiro da Copa. Ainda está se recuperando, mas em 70 dias vai estar pronto.

Esse período pré-Copa vai ser muito importante para jogadores como ele e Julio Cesar?

Quando esses treinadores falam de um mês de treinamento, até me arrepia. Eu acho pouco. Como treinador, acho muito pouco. Mas é o tempo que o futebol tem.

Você é a favor de uma mudança no calendário para que os times tenham mais tempo para treinar na pré-temporada?

No futebol brasileiro é muito difícil, principalmente em São Paulo, que tem times muito fortes. Veja o Ituano na final e o que fez o Penapolense. Mas seria importante diminuir o número de jogos.

Você é a favor da proposta do Bom Senso, com um tempo menor para os estaduais?

Sim. O Brasileiro tem que ter turno e returno, isso é superimportante. Mas o estadual teria que ser reduzido. Os clubes menores vão reclamar, mas o calendário atual sobrecarrega os grandes. O Paulistão, porém, é um campeonato importante, que não pode ser descartado.

O Brasil não tem uma alternativa que seja consenso para o lugar do Fred, por exemplo. O futebol europeu não tem centroavantes brasileiros em times de ponta, mas os defensores da Seleção são valorizados. Temos laterais no Barcelona e no Real Madrid e zagueiros no PSG, Chelsea e Bayern. Isso é um sinal de que o futebol brasileiro está perdendo sua essência?

Não podemos esquecer que temos o Neymar. Os outros atacantes podem não ter tanto nome como os craques do passado, mas são bons jogadores. O importante é o esquema tático que vai ser montado e o desempenho que eles podem trazer para o grupo.

Se você fosse convidado pela Fifa para votar nos três melhores jogadores do mundo, quais seriam os seus preferidos?

Isso é muito de fase, mas eu acho que Cristiano Ronaldo está vivendo um grande momento. Tem o Messi e o Ribery, que também teve uma temporada muito boa. Mas esse ano, eu estou muito positivo em relação ao Neymar.

Acredita que essa Copa vai levar Neymar a um outro patamar?

Sim, eu acho. Será um grande teste pra ele. Estou bastante otimista.

Você assiste bastante futebol na TV?

Não tenho assistido tanto porque o vôlei tem tomado muito tempo, mas gosto de ver, tanto nacional como europeu.

Como técnico de equipes de alto nível, como você vê o trabalho de Pep Guardiola?

Gosto muito. É um dos melhores técnicos do mundo. Mostrou isso no Barcelona e está mostrando agora no Alemanha.

Ele faz um trabalho diferente dos outros treinadores?

Eu gosto do jeito que o time dele joga. Gosto de time que sabe tocar bem, time técnico, um time que se desloca bem, que marca bem, que todo mundo ajuda todo mundo. Eu gosto desse tipo de futebol.

Por ter o Bayern como base de sua seleção, você acha que a Alemanha pode trazer um pouco disso para a Copa?

Muito pouco, porque a filosofia de cada treinador é diferente. Depende do que o técnico vai pedir para cada jogador, o que ele vai executar em campo. Não é simples. Isso é uma coisa treinada, que em doses homeopáticas vai melhorando. A dinâmica, o ritmo, o entendimento, o sincronismo... Isso vai acontecendo gradativamente. Para você pegar em um mês, reunir os jogadores e fazer com que joguem igual ao Bayern ou ao Barcelona não é simples. O Daniel Alves declarou que os treinos com o Guardiola provocavam um desgaste mental. Esse é o pior treino. Isso que é legal. O que faz a diferença é você fazer o atleta pensar, raciocinar, ter uma leitura do jogo. É aí que muda. Não simplesmente dizer você vai daqui pra lá e de lá pra cá. O cara tem que enxergar o jogo, ver como o time se comporta. Eu não sou técnico de futebol, estou falando como leigo, mas o que eu vejo, o que eu sinto, é que é legal ver quando o jogador tem essa percepção, quando o time trabalha como um todo.

Qual foi seu jogo inesquecível de Copa do Mundo?

O que mais me marcou até hoje foi Brasil x Inglaterra, na Copa de 70. Foi angustiante, terrível. A cabeçada do Pelé que o Banks pegou, a dificuldade pra se fazer o gol. Era lá e cá, craques dos dois lados, a gente não conseguia jogar, até que o Tostão pega aquela bola... Para mim, foi o jogo mais angustiante.

Como você vê a preparação do Brasil para a Copa? Acha que vai sair e depois ninguém mais vai se lembrar dos atrasos ou é um Mundial que vai ficar marcado como problemático?

É que estamos aqui, vendo os problemas. Não acompanhei a África do Sul, que também teve alguma coisa nesse sentido. Mas aqui está marcando muito.

Que o Brasil teria problemas era até esperado. Mas você acha que está acima de um nível aceitável?

Acima da minha expectativa está. Estamos resolvendo muitos problemas de última hora e alguma coisa vai ficar para trás.

E como você vê a preparação do Brasil para a Olimpíada? Tudo isso pode servir de lição para eliminar alguns erros?

Serve totalmente como lição. Temos que nos basear sempre no histórico que tivemos e estamos tendo para diminuir os erros. Particularmente, não sei como estão as obras para os Jogos Olímpicos, não tenho acesso a isso. Mas temos tempo e que sirva de lição para que a gente tenha tudo preparado. Difícil vai ser encontrar de novo uma Pequim, que estava com tudo pronto e impecável quatro anos antes dos Jogos.

Em dezembro de 2015, você vai fazer como Felipão e afirmar que o vôlei feminino será campeão olímpico no Rio?

Não... Eu sempre fui um pouco “pés no chão”. Eu acho que a gente tem condições de brigar com qualquer seleção do mundo. Eu gostaria muito de afirmar isso, mas prefiro esperar porque o mundo dá voltas. Em uma Olimpíada, para você ganhar, os Deuses do Olimpo têm que estar a seu favor. Não é só se o time está bem, entrosado. Você tem que rezar para que não haja contusões, para que os familiares das jogadoras naqueles momentos estejam todos bem. Tudo tem que fluir de uma forma positiva, sem problemas.

Um fator desses pode afetar o rendimento do time inteiro?

Exato. Por isso que não afirmo veementemente. A única coisa que eu digo é que temos uma base remanescente de Londres e que vamos brigar. Agora, eu acho que está reservado. Se a gente merecer ganhar e tudo correr dentro do planejado, se nada de fora atrapalhar, acho que a gente tem condições.

Você foi três vezes campeão olímpico. Ganhar no Brasil seria muito diferente das outras três medalhas?

Olimpíada é algo gostoso de ganhar em qualquer lugar do mundo, mas me emociono só de pensar nesse momento, de ganhar dentro da sua casa, diante da sua torcida, num ginásio em que você treinou e você conhece desde garoto. Eu joguei no Maracanãzinho quando era muito novo ainda... É algo assim que é só em sonho.

Carlo Carcani
carlo@rac.com.br



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