Publicidade

Header Ads

'Temos time para jogar de igual para igual', diz José Roberto Guimarães

Zé Roberto dá instruções a Natália, um dos destaques do Vôlei Amil - Divulgação

 A história da Superliga Feminina mostra que, nos últimos nove anos, não houve espaço para outras equipes, senão Unilever e Molico/Osasco (ainda que com outros nomes), na briga pelo título nacional. O Vôlei Amil, em seu segundo ano de existência, aparece como candidato a furar essa hegemonia. O time liderado por José Roberto Guimarães já conseguiu ser intruso na fase de classificação, quando terminou com a segunda melhor campanha. Agora, tem o desafio de tentar eliminar o atual campeão, comandado por Bernardinho, na semifinal que começa nesta terça-feira, às 21h30, em Campinas.

Nesta entrevista exclusiva ao Estado, Zé Roberto - campeão da Superliga com o então Finasa/Osasco, em 2004/2005, ano do início da hegemonia - avalia o rival, a evolução de seu time em duas temporadas e as possibilidades de chegar à final. Ao contrário de Bernardinho, não quis se pronunciar sobre as denúncias, feitas pela ESPN Brasil, de corrupção na CBV. Mas criticou o sistema de sets com 21 pontos, adotado nesta edição. Diz que ainda não pensa na despedida do time campineiro - ele vai se dedicar apenas à seleção feminina a partir da próxima temporada.

ESTADO - Há nove anos a Superliga Feminina é decidida pelos mesmo times - Unilever e Molico/Osasco. O Vôlei Amil é a equipe que pode acabar com essa hegemonia?

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - Eu acho que a chance existe, mesmo porque a gente conseguiu chegar em uma semifinal, um dos momentos mais importantes do campeonato. Mas vejo uma semifinal muito equilibrada. Os dois times se parecem muito nas suas características. O que eu acho que o Unilever leva um pouco de vantagem é na experiência. Eles fazem finais há nove anos, e sempre foram primeiros ou segundos da fase de classificação. Neste ano mudou, nós ficamos em segundo e eles, em terceiro. Mas, tecnicamente, é um time que saca bem, tem um bom volume de jogo, tem uma boa relação bloqueio e defesa. Todas as jogadoras são boas atacantes e eles têm a que, para mim, é a melhor levantadora do mundo. Eu sou suspeito para falar da Fofão, temos toda uma história juntos, mas ela pode fazer a diferença. Tudo pode acontecer. Chegarmos até aqui já foi importante, e acho que temos time para jogar de igual para igual. Depois disso, é momento, é dia, é o jogo.

ESTADO - O Vôlei Amil nasceu no ano passado e já evoluiu em relação a temporada passada. Qual sua avaliação desse processo?

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - O trabalho desse ano foi extremamente prazeroso. A gente viu um time, quando chegou, que cometia muitos erros técnicos, tinha alguns problemas de fundamentos. E hoje, nessa trajetória desde o começo do trabalho, vejo um time se movimentando de maneira diferente, com uma regularidade maior, com um sincronismo mais adequado. A evolução foi muito grande, e é motivo de muita felicidade. Nós achamos que elas evoluíram, mas o resultado é que pode falar.

ESTADO - Na frieza dos números, o Vôlei Amil tem vantagem de 2 a 0 sobre o Unilever, com as vitórias na fase de classificação. Mas foram vitórias por 3 sets a 2...

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - Eu falo muito de equilíbrio porque, quando você ganha por 3 sets a 2, no próprio resultado já existe esse equilíbrio. A gente ganhou três sets e jogou melhor no tie-break, mas muitas vezes o tie-break também é uma questão de sorte. É sempre muito difícil jogar contra o Unilever porque é um time que nunca está batido, tem uma tradição de grandes viradas, porque tem muita concentração, sabe sair de momentos difíceis. Essa história escrita pela Unilever durante anos é de muito respeito, e para nós esse fato também é importante, para a nossa própria postura. Sabemos que vamos encontrar um adversário que erra pouco, que temos de construir um resultado para ganhar. Nosso time vai ter que lutar para vencer. Estou na expectativa, ansioso, sei que vai ser um jogo difícil. Até o momento, estamos treinando bem. E seja o que Deus quiser.

ESTADO - Você terá todo o seu time à disposição, incluindo a Tandara.

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - A Tandara se recuperou bem e já está treinando, saltando, é um reforço a mais. Eu fiquei apreensivo em Brasília quando ela teve essa contusão. Não sabíamos a extensão, e depois o diagnóstico foi mais ameno. Não forçamos para ela voltar antes, contra o São Caetano, até para preservá-la.

ESTADO - Você elogiou muito a Fofão, mas seu time também tem uma jogadora de referência, que é a Walewska, capitã da equipe. O que você pode falar da importância dela para a sua equipe.

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - A Wal é uma jogadora que sempre foi muito equilibrada emocionalmente, e ela passa isso para o time: seriedade, tranquilidade, principalmente nos momentos mais críticos. Poder contar com uma jogadora do nível dela, com a maturidade que ela adquiriu nesses anos, é muito importante. E ela tem uma leitura de jogo...É uma jogadora de decisão, que o time pode confiar nos momentos mais difíceis, daquela última bola, daquele bloqueio, daquele instante decisivo. Tecnicamente, no fundo, ela pode ajudar muito, tanto no passe quanto na defesa. É uma jogadora completa, e serve de espelho para as mais novas. Ela é uma cabeça diferente. Além de ser uma pessoa inteligente, tem bom senso, bom discernimento, é muito justa nas opiniões dela, tem uma personalidade que ajuda muito o treinador. Ela fala o que tem que falar, ela se comporta de uma forma que serve como exemplo. Sempre é das primeiras a chegar, e das últimas a sair. Para mim, é mesmo uma referência.

ESTADO - O que as denúncias apresentadas contra a CBV influenciam quem está na quadra. Esse foi um ano conturbado para o vôlei?

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - Acho que essas coisas... Eu nunca me envolvi muito nessas áreas. Eu sempre procurei me reservar às minhas atribuições como treinador. São acontecimentos que vão ter um final, mas dentro da quadra temos que tocar nossa vida. Eu não queria falar sobre isso, não. Minha concentração é no meu time, na Superliga, e daqui a pouco eu preciso começar a pensar em seleção. Eu não gostaria de falar sobre isso.

ESTADO - Você acha que, na próxima Superliga, voltam os sets de 25 pontos? Isso também foi complicado?

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - Não foi uma coisa que pegou, o mundo joga 25 pontos, não foi uma mudança adequada e a gente viu que não muda muito o contexto do jogo. Mas para a gente, em relação à estratégia do jogo, do número de erros, da situação de risco que pode correr... Nisso não ajudou. Eu acho que engessou estrategicamente o jogo, porque em qualquer descuido, você pode perder. Eu não gosto por causa do ritmo, do risco que não se pode correr. Parece que o erro vale o dobro, você não tem margem. Isso faz com que todo mundo entre em uma tensão maior, com uma pressão maior. Eu não gosto.

ESTADO - Você espera se despedir do Vôlei Amil com o título?

JOSÉ ROBERTO GUIMARÃES - Eu não penso isso. Eu penso jogo a jogo. Não quero pensar na despedida, nem falar em título. Não é o momento. É passar esta terça-feira, e pensar no jogo do dia 12 (sábado). Vivo dia a dia, treino a treino, jogo a jogo. Não projeto. Eu entrego sempre na mão de Deus, e ele sabe o que faz.



Postar um comentário

0 Comentários