Em entrevista ao ESPN.com.br, o comandante do Sesi dissecou o vôlei nacional e disse enxergar melhorias nos últimos anos, mas ainda vê problemas no calendário. E o curioso é que as dificuldades no esporte são causadas por algo muito parecido com o que acontece no futebol: a seleção brasileira e os estaduais.
Pacheco, claro, também falou do Sesi, da decisão em jogo único e do dura missão de enfrentar o ótimo - mas não imbatível - time do Sada Cruzeiro.
Veja a entrevista completa com Marcos Pacheco:
ESPN.com.br: Como é enfrentar um rival embalado como o Sada Cruzeiro, que perdeu apenas três vezes em toda a temporada? O que fazer para desbancar um time assim?
Marcos Pacheco: Temos que enfrentá-los como estamos enfrentando nos últimos anos. É uma equipe muito talentosa, estão mantendo esse time há várias temporadas. É um time que já ganhou muita coisa e sabe como enfrentar as dificuldades, por isso oscila pouco, sempre joga em um padrão alto. Para ter a chance de vencer, tem que igualar eles. Eles não vão baixar o nível. É um tiro no pé esperar que eles joguem mal. É um jogo de risco, não dá para fazer um jogo comum. Tem que arriscar algo, como o saque. Tentar quebrar o sistema de recepção, fazer com que o William não tenha todas as opções.
ESPN.com.br: É melhor que a final seja em jogo único contra um time assim? O que pensa sobre essa final em jogo único?
Marcos Pacheco: Não existe time imbatível. Eles perderam o Sul-Americano, nem foram para a final da Copa do Brasil. É um time muito bom, mas não existe ninguém imbatível, então podemos ganhar. Eu participei da primeira final em jogo único e tinha muitas dúvidas se mudava alguma coisa no time. Essa me parece que é a sétima final em jogo único. Se fosse optar, ainda acredito em uma melhor de três. Acho que seria mais do que foi o campeonato, longo, de turno e returno. Não é um Mundial ou uma Olimpíada que são de tiro curto.
ESPN.com.br: Você fez história com o ótimo time montado pela Cimed, que ganhou tudo por muito tempo. Como foi participar desse projeto. Vê semelhanças com o que acontece hoje no Cruzeiro?
Gazeta Press
Marcos Pacheco: Naquele momento a gente teve a felicidade e a competência de visualizar jovens promissores. Bruninho, Éder, Lucão, Thiago Alves, Mario Júnior... Eles ainda não eram protagonistas, eram promessas. O time cresceu junto, deu seguimento. É o que o Cruzeiro tem hoje, a continuidade. E esse é um grande mérito do Mendez (técnico do Cruziero) e de toda equipe: manter a fome por vitórias, sempre buscar algo mais. Muitas vezes a continuidade e as conquistas deixam de barriga cheia, saturadas. Foram sete anos, cinco finais seguidas com a CImed. Era um projeto muito legal. Pena que existem ciclos. Tirando Osasco, Rio de Janeiro, Minas, São Caetano, os outros times são de ciclos. O investidor alcança as metas desejadas como produto e depois sai.
Pacheco, campeão com a Cimed
ESPN.com.br: Como mudar isso?
Marcos Pacheco: É uma equação difícil. Passei por Frangosul (Novo Hamburgo), pela Ulbra. Foram projetos vencedores, mas que não viveram muito, não deram continuidade. Chega um momento em que o investidor tem que aumentar o investimento para manter as conquistas. Tem a questão da televisão que não fala o nome da equipe e isso é um fator negativo. Na Cimed, tinha contato com o presidente da empresa e ele sempre falava que o patrocínio era de camiseta, não de nome. Tem alguns fatores que temos que dar uma reavaliada.
ESPN.com.br: E quanto a calendário, há problemas no vôlei?
Marcos Pacheco: Não sei se hoje é ideal, mas já foi pior. Hoje existe uma programação com a seleção também. Temos uma característica única no Brasil, que são os estaduais. Você não acompanha o calendário internacional. No ano passado, tive momentos com apenas seis jogadores para treinar. As competições internacionais têm que acabar até dia 15 de outubro para os jogadores chegarem para a disputa dos playoffs do estadual. Até lá, temos que nos virar com o que temos. O que não pode, e infelizmente aconteceu no ano passado. O Lucarelli chegou na terça de uma viagem da Polônia e na sexta tive que usar ele porque tinha problemas de lesões e também de viagens com meus outros ponteiros. Não dá, não posso fazer isso, é perigoso.
ESPN.com.br: Com o fim de mais um ciclo olímpico, é bem possível que Bernardinho ou até Zé Roberto decidam largar a seleção brasileira (masculina e feminina, respectivamente). Você sonha com a seleção?
Marcos Pacheco: Acho que como todo profissional, sonho em representar o país. Mas sou ciente, consciente, que as duas pessoas mais aptas e preparadas estão ali. É inquestionável que Zé Roberto e Bernardinho são os melhores. Tenho esse sonho também de disputar uma Olimpíada, até como auxiliar se for o caso. Mas hoje vejo que Bernardinho e Zé têm a opção, e essa opção vai ser deles, de ficar quanto tempo quiserem na seleção. Eles têm trabalho, competência e história para começar um novo projeto.
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