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Cubano é liberado para jogar vôlei pelo Brasil



Naturalizado brasileiro desde 2015, o cubano Leal tem fama de ser péssimo ao volante. Basta o motorista do ônibus do Sada Cruzeiro, time finalista da Superliga de vôlei, dar uma freada brusca ou fazer uma barbeiragem, para os jogadores do time imediatamente gritarem seu nome. Quem conta essa história é William, levantador e capitão da equipe.
— Ele não deveria ter carro em Cuba, até pela situação financeira que vivia. Então, chegou aqui um pouco duro em relação à direção e brincávamos que tínhamos medo de andar de carro com ele. Hoje, tem um bom carro, dirige melhor, mas a brincadeira continua. No ônibus, se acontece alguma coisa, a gente grita: "Leaaaal!!!", como se ele estivesse ao volante. Ele dá risada — conta William, numa demonstração de que o atacante, o melhor da Superliga, está adaptado aos brasileiros.
Leal, que defendeu pela última vez a seleção de Cuba em 2010, está no Brasil desde 2012. E ontem, em reunião do conselho executivo da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), no Marrocos, conseguiu autorização para defender a seleção brasileira após cumprir dois anos de carência. Assim, é esperança para Tóquio-2020 e poderá ser o primeiro estrangeiro, naturalizado, a defender o Brasil no vôlei.
— Ele merece. É um cara que trabalha muito sério, é de grupo, e muito querido. Não teria problema em integrar a seleção. O grupo o aceitaria tranquilamente pela pessoa e o profissional que é — diz William, que também o defende na seleção. — O Leal ajudaria demais porque é um jogador de força. E como ele tem poucos no Brasil. Temos bons ponteiros, a maioria mais passadores e habilidosos, não com tanta potência. Ele brigaria pela posição porque ninguém tem vaga garantida, mas eu aposto que ganha. É um dos melhores ponteiros do mundo, extremamente ofensivo, com potencial de saque, ataque e bloqueio. É um definidor nato.
Tomando por base a última convocação para a Rio-2016, seus "concorrentes" seriam Lucarelli, Maurício Borges, Lipe e Douglas Souza.
Questionada, a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) explicou que "intercedeu junto à FIVB solicitando que o processo tivesse celeridade com o objetivo de ajudar o jogador diante de seu desejo manifesto". Não explicou, porém, os planos para Leal. Anteriormente, havia comentado que ele poderia treinar com a seleção já em 2018. O técnico Renan dal Zotto só se pronunciará a respeito na segunda-feira, quando fará nova convocação.
Leal, hoje com 27 anos, decidiu sair de Cuba após o Mundial da Itália, em 2010, quando sua seleção perdeu a final para o Brasil. Na volta para casa, ele e outros atletas decidiram abandonar a seleção e ficaram impedidos de jogar por dois anos. Esse é o procedimento para quem quer sair da ilha para jogar no exterior. À época com 20 anos e pai de um menino, esperou a "quarentena" sem sequer poder fazer academia. Ganhou cerca de 20 quilos e se transferiu para o Cruzeiro em busca de uma vida melhor.
— Eu tinha propostas da Polônia e da Rússia, mas o Cruzeiro andou rápido com os papéis de transferência e passou a me mandar dinheiro já em Cuba. Além disso, o clima no Brasil me agrada mais — explica Leal, eleito o melhor sacador da Liga Mundial de 2010. — Esperávamos melhores condições para nós atletas e nada aconteceu. Por isso, decidi deixar a seleção cubana. Tomei uma decisão e não me arrependo.
TATUAGEM
Leal não só se adaptou ao Brasil como conquistou títulos. Desde que desembarcou em Belo Horizonte, foi tricampeão da Superliga (2013/14, 2014/15 e 2015/16), sendo considerado o melhor atacante em 2013/14 e 2012/13 (time foi vice) e o melhor jogador da final em 2014/15. Também é tricampeão mundial de clubes (2016, 2015 e 2013), sendo eleito MVP em 2015 e melhor ponteiro em 2013 e 2016. No domingo, disputará mais uma final de Superliga.
A ascensão meteórica não foi fácil.
— Chorei muito. Vim sozinho, sem minha esposa, grávida. Fiquei um ano assim. Sentia falta de todos — lembra o ponteiro, que volta à ilha todos os anos para visitar os pais. — Quando decidi me naturalizar, três anos depois, tatuei (no antebraço esquerdo) uma frase de Che Guevara: "No se vive celebrando victorias, sino superando derrotas". Tem a ver com a minha história. Lutei muito. Não nego minhas raízes, nasci em Cuba. Mas vivo aqui e estou feliz. Não voltaria a morar lá. As coisas pioraram. Agora quero disputar uma Olimpíada. Quando encerrar a carreira, pretendo morar nos Estados Unidos, onde tenho uma casa.
Para voltar aos 100, 102 quilos, contou com Marcelo Mendez. O técnico do Cruzeiro diz que Leal está entre os dois ou três melhores jogadores do mundo:
— Ele trabalhou muito e voltou ainda melhor. Chegou com sobrepeso e fez tudo o que precisou. Sempre foi um bom atacante e sacador e melhorou nos outros fundamentos. É um menino de que gosto muito, quero vê-lo feliz. Ele sente prazer quando joga, treina, disputa um jogo pra ganhar. Ele gosta muito da seleção e quer jogar uma Olimpíada. Acho que está completamente capacitado.
Bernardinho concorda. Ex-técnico da seleção, ele o incentivou a se naturalizar.
— Ele já está há tanto tempo no Brasil... Antes de querer jogar na seleção, quis se tornar brasileiro. Vive, tem um filho, construiu a vida aqui. Não aproveita uma condição, não caiu de paraquedas.


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