Parado na entrada da quadra do CT de Saquarema, os olhos quase não piscavam. Observavam com atenção o treino da seleção comandado por Bernardinho. Não viam a hora de atravessar o corredor e passar por aquela porta que separava os meninos da base e a equipe principal do Brasil. A linha foi cruzada este ano, quando foi convocado para o grupo que se prepara para a disputa da Liga Mundial. Aos 22 anos, Rafael Araújo não esquece o nervosismo até atacar a primeira bola. Não esquece a apreensão que sentiu até o primeiro comentário do treinador.
- Eu comentei com meu pai o que é sentir o cara ali do seu lado. Quando eu estava fora do grupo, eu tinha uma visão diferente. Ele me parecia elétrico e alguém que dava muita bronca. E agora vejo que é o contrário disso. É alguém que tem energia e procura tranquilizar a gente, dar dicas. Estou realizando um sonho de jogar no time adulto e tentando aproveitar o máximo. Comecei a jogar com 17 para 18 anos e tudo aconteceu muito rapidamente para mim - disse.
Até outro dia, o que mais se aproximava do vôlei para o filho de seu Val e dona Eunice era o biribol. Dentro das piscinas de Londrina, passava sem dificuldade a bola para o outro lado da rede nas brincadeiras de fim de semana. Resolveu se arriscar nas quadras, onde defendia o time local. Entre um treino e outro arranjou tempo para prestar o vestibular para Odontologia. Até que um técnico da cidade o convenceu a participar da peneira do Florianópolis. Foi aprovado. Convivia com Lucão, Thiago Alves e Bruninho, que vestiam a camisa da equipe catarinense na ocasião. Seis meses depois, já estava na seleção juvenil.
Após três anos, o oposto de 2,06m fez as malas e foi defender o Taubaté. Se na Superliga passou longe do título (terminou em 10º lugar), no Mundial sub-23 a história foi outra. Rafael foi um dos grandes nomes da vitoriosa campanha brasileira na competição disputada em outubro do ano passado. Com 23 pontos, foi o maior pontuador da final contra a Sérvia.
O potencial do jovem jogador já mereceu elogios de Leandro Vissotto. Já foi chamado por ele de "André Nascimento na versão gigante", por ser canhoto como o campeão olímpico de 1,95m e pela habilidade.
- Ele brinca comigo, mas é uma comparação de luxo. André é um dos meus ídolos, alguém em que me inspirei pelo estilo de jogo. Agora, aqui, estou tentando me aproximar ao máximo e sugar tudo que Vissotto pode me oferecer de melhor. É um grande jogador e uma pessoa sensacional. Ele é um cara bem tranquilo em quadra, experiente, tem títulos com clubes e com a seleção e está acostumado a decisões. A tranquilidade em quadra para trabalhar as bolas difíceis é algo que busco aprender com ele a cada treino.
Recém-contratado pelo Sesi-SP, Rafael quer estar pronto caso seja relacionado para atuar em um dos jogos da primeira fase da Liga. A estreia do Brasil na competição será na sexta-feira, contra a Itália, em Jaraguá do Sul (SC). Só pensa em mostrar serviço ao chefe. Gosta de estar entre grandes e não se queixa das atribuições de calouro que incluem levar as roupas dos veteranos à lavanderia e pegar copos de suco na hora das refeições.
- Estou bem feliz e focado. O Theo se juntou ao grupo na semana passada e o Wallace vai chegar. Mas se acontecer de eu estar no time da estreia vai ser uma oportunidade única. Minha família está muito empolgada. Meu pai sem gostou de esporte e me deu todo o suporte. Então, estou me dedicando muito, assim como todo o grupo. Está bem puxado e, como sempre, a torcida pode e deve esperar dedicação total da seleção brasileira. Sempre que entra em uma competição, o Brasil quer conquistar o título.
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