O esforço para o Brasil chegar ao tricampeonato do vôlei feminino nas Olimpíadas do Rio de Janeiro está gerando uma atitude inusitada por parte da CBV, a Confederação Brasileira da modalidade: para não deixar Jaqueline, uma das estrelas da seleção, sem clube na próxima temporada, a entidade está se mobilizando para arrumar um time para que ela possa jogar a próxima Superliga.
Considerada "fundamental" pelo técnico da seleção, José Roberto Guimarães, Jaqueline não atua por clubes desde o dia 7 de abril de 2013. Nos meses seguintes, ela tirou "férias" do vôlei para se dedicar à gravidez e ao nascimento do filho Arthur, mas agora não consegue um espaço de volta porque foi considerada uma jogadora sete pontos, o máximo permitido pelo ranqueamento de atletas que tenta evitar um desequilíbrio de forças entre as equipes da Superliga. Como cada time só pode ter duas jogadoras neste nível, ninguém até agora quis arriscar um contrato sem saber como Jaqueline estaria depois de tanto tempo parada. Para dificultar, a ponteira se recusa a sair de São Paulo, onde mora com seu marido, o capitão da seleção masculina, Murilo.
Para que a seleção brasileira não seja prejudicada, um movimento nos bastidores começa a acontecer para resolver a situação de Jaqueline. Zé Roberto comenta:
— As pessoas da própria CBV estão se mobilizando para tentar arrumar alguma coisa para a Jaqueline jogar no Brasil e ficar perto da família. Estamos a dois anos dos Jogos Olímpicos do Rio, ela é uma jogadora fundamental para o esquema da seleção e tem que estar em atividade
Por enquanto, porém, nada está definido e a jogadora se diz sem propostas a analisar. Ela, inclusive, já se acostuma com a possibilidade de não atuar após o Campeonato Mundial, torneio que marca o encerramento desta temporada de seleções e cujo fim está programado para 12 de outubro:
— Vou ter que ter férias forçadas, mas não vou deixar de jogar, de trabalhar e de fazer a minha parte (...) O que fizeram comigo, de me dar pontuação sete sem ter jogado a temporada passada, me prejudicou muito. Desde que eu vi, eu já lancei na internet: "Ih, ferrou para o meu lado".
A possibilidade de se acabar com ranqueamento da Superliga chegou a ser cogitada no primeiro semestre, mas uma votação feita entre os times da competição decidiu que o sistema deveria continuar. Esta é a mágoa de Jaqueline, que não se revolta com o fato de não ter ganhado uma chance entre os clubes que poderiam contratá-la:
— Os técnicos não identificam muito bem se as jogadoras que engravidam vão voltar bem ou não. Agora, eles estão vendo que estou evoluindo (na seleção), que tenho condições, mas até então ninguém queria arriscar comigo. E estão certos, pois vão pagar uma jogadora de sete pontos que acabou de engravidar?
Caso Jaque realmente fique sem clube na próxima temporada, Zé Roberto já pensa em um "plano B" para uma de suas principais atletas:
— Vou treinar a Jaque sozinho. Não tenha dúvida, vou ter que fazer alguma coisa. O problema é que aí ela só poderia fazer algumas coisas, mas não estaria jogando, o que é muito importante para o desenvolvimento dela. Porém, acredito que (antes disso) a gente consiga equacionar essa dificuldade que temos hoje.
2 Comentários
Este episódio demonstra o despreparo da atual gestão da CBV que foi omisso quando os clubes fizeram essa covardia de pontuá-la com 7 pontos, mesmo com 1 ano de inatividade no vôlei e a gravidez, especialmente por temer que a mesma continuasse jogando no Osasco após a maternidade.
ResponderExcluirSão duas atitudes que contrastam com a tradição da boa administração do vôlei brasileiro, a dos clubes é sem comentário, é covarde, golpista, injusto com a atleta e com o próprio espírito esportivo, pois coloca interesses mesquinhos na frente do justo e ainda abre um outro perigoso precedente absurdo de criar mecanismos que na prática pune a maternidade de uma atleta!
E enquanto isso, a CBV com a sua omissão e conivência com toda essa injusta covardia com a atleta e com o esporte, fica numa posição de quase coautoria. Menos mau agora que, pelo menos agora, a CBV está tentando corrigir o seu erro, já a omissão e o silêncio por partes dos clubes só reforça a impressão da prioridade no mesquinho e no antiesportivo!
Será que mesmo depois de mundial fantástico que a Jaque esta fazendo ela vai continuar sem clube?
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