A insatisfação vem de alguns anos, o ranqueamento de atletas da Superliga, por um sistema de pontos, definitivamente não caiu nas graças das artistas do espetáculo. Os recentes casos de Jaqueline, Elisângela e, agora, Fernanda Garay, que não renovou seu contrato com o Dinamo Krasnodar por conta da crise financeira do clube russo, só aumentam a irritação de Dani Lins, Fabiana, Thaisa & Cia. Prova disso está em postagens nas redes sociais do trio e de outras selecionáveis, com o pedido de extinção da pontuação individual e o teto por time.
A cobrança maior recai no colo da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), entidade que administra o esporte, mas a postura dos clubes não é esquecida, tampouco inocentada. As dificuldades encontradas para renomadas atletas em achar posicionamento dentro dos principais candidatos ao título e também às recém-chegadas ao adulto são apontados como os problemas mais dramáticos do ranking. Uma espécie de "Bom Senso Futebol Clube" começa a ganhar força, e a formação de um grupo para reivindicar direitos passa a ser vista como essencial.
- A gente tem que se unir o mais forte possível, reunir o maior número de jogadoras para acabar com esse ranking. Não sei se é o certo ou errado, mas o que a gente faz é colocar nas redes sociais, tenta movimentar isso de alguma forma. Acho que temos que fazer isso não só pelas redes, temos que nos reunir, sim, e falar com os clubes. Realmente, os clubes fizeram uma votação (caso Lili) e não votaram a favor. Infelizmente, a gente fica nas mãos deles. Não defendo só o caso da Lili, tiveram outras várias jogadoras que tiveram que parar obrigatoriamente, várias jogadoras que saem do juvenil e nem sabem para onde vão. Times mais abaixo (na tabela) acabam por falta de investimento, patrocínio, e para onde essas jogadoras vão? Isso é uma coisa triste que vejo no nosso país, uma coisa que me deixa chateada. Tenho falado com Fernanda, situação complicada, antes das Olimpíadas. Ela deveria estar focada em estar bem no clube, mas está pensando em outras coisas. Imagina se ela fica sem jogar, entendeu? É uma coisa que te deixa sem dormir. A gente tem fé em Deus, acredita que ela vai conseguir achar um clube, mas temos que ir contra isso, que está prejudicando. Todo mundo quer aprender aqui, jogar aqui, mas, ao mesmo tempo, tem o caso da Fernanda, da Lili e de outras várias jogadoras. Você não poder jogar no seu próprio país, na sua casa, me deixa triste. Hoje, é a Lili que tem 37 anos. Depois, pode acontecer comigo, posso querer jogar e não ter clube. Eu, Fabiana, sou contra o ranking - desabafou a capitã da seleção brasileira Fabiana, durante a apresentação oficial da Superliga, nesta terça-feira, no Rio de Janeiro.
Depois de Elisângela, que não pôde permanecer no Osasco para a disputa da Superliga por ser atleta com pontuação 1, num time com os 43 pontos limite permitidos pela regra do torneio, agora é Fernanda Garay quem se vê em uma situação delicada. Jogadora do Dinamo Krasnodar até a última temporada, a ponteira do Brasil não renovou seu contrato por falta de verba dos russos - ela tem salários atrasados.
Uma volta ao Brasil seria uma boa opção, principalmente por os principais campeonatos europeus estarem em andamento e a maioria dos grandes times está com o elenco fechado. Porém, por ser bicampeã olímpica, Garay tem a pontuação máxima (7) e não tem espaço nos clubes que devem disputar o título da Superliga (Rio, Osasco, Sesi-SP e Praia Clube). Para voltar ao país, teria que atuar por uma equipe de menor expressão e também com um investimento mais enxuto. O Bauru fez proposta. O Minas, do auxiliar técnico de Zé Roberto na seleção, Paulo Coco, também quer contar com a jogadora, mas corre atrás de investidor.
- Gostaria muito de contar com ela, se pintar a possibilidade. Mas não é fácil, precisamos de parceria, um investidor. Conversas estão acontecendo com a diretoria, mas não sei qual é a realidade dela fora do Brasil, qual a situação (financeira). Conversamos durante o Sul-Americano, ela me contou que estava com problemas lá (Rússia), mas que ia tentar resolver sua situação - contou Paulo Coco, treinador do Minas.
Sem definição, Fernanda Garay mantém a forma física e técnica no Osasco.
- A maioria dos times já está com seu elenco definido e, dificilmente, acontece de contratar uma jogadora agora. Porém, a regra permite que até dezembro você consiga escrever alguma jogadora. Alguns times me procuraram, a gente está conversando, negociando, e eu espero que nos próximos dias tenha uma camisa para vestir - disse Garay ao SporTV.
Levantadora do Osasco e da seleção, Dani Lins lembra que outros casos podem acontecer com atletas atuando fora, caso optassem ou fosse obrigadas a retornarem neste momento ao Brasil. Contrária a qualquer tipo de enfrentamento com clubes e confederação, ela diz acreditar ser na união das atletas uma alternativa para o fim do ranking.
- Nós queríamos estar fazendo uma Superliga muito melhor, trazendo todas as jogadoras para o Brasil, como a Sheilla (joga na Turquia), a Fabíola (também do Dinamo Krasnodar). Seria melhor para a seleção brasileira. Eles (dirigentes da CBV) falam que os clubes aceitaram (o regulamento), mas tem que partir da CBV acabar com o ranking. Revolução, essas coisas, não dão certo. A gente sofre muito, nossos patrocinadores sofrem e os torcedores também, pois querem ver a gente jogar. Mas, a verdade, é que nós temos que conversar, sim, sentar seriamente com todo mundo e resolver - afirmou Dani Lins, que disse acreditar ver Garay atuando por uma equipe o mais rápido possível.
Conhecida por dizer o que pensa, Thaisa revelou ter tentando exercer sua condição de protagonista em uma antiga reunião da CBV, mas alegou não ter sido ouvida. A central do Osasco confidenciou que dentro dos próprios times existem barreiras para casos como o de Elisângela.
- A gente tentou fazer isso, já cheguei em reunião da CBV e não tive voz. Só que eles esquecem que, se não tiverem as atletas, não tem patrocinador, clube e campeonato. Quando tiver uma reunião, tem que chegar lá, votar contra o ranking e acabar com isso. A Fabi (Fabiana) pediu para o técnico dela (Talmo) e ele não deu a menor bola para o caso (Lili) e disse "não". Está nem aí. O Wagão (Pinheiros) também, inclusive, já trabalhou com ela. Como assim? Eles têm que colocar a mão na consciência, é muito clubismo. Às vezes, esquecem das atletas. O que adianta eles trazerem atletas de fora, se as nossas estão saindo? Tem alguma coisa errada - disse a bicampeã olímpica, outra com pontuação máxima, assim como Dani Lins e Fabizona.
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