Prestes a comandar a Seleção Brasileira feminina de vôlei em sua quarta Olimpíada consecutiva, José Roberto Guimarães comemora viver um ciclo sem grandes problemas pela primeira vez desde 2003, ano em que assumiu o cargo.
O que tira o sono do treinador hoje são os rivais que tentarão impedir o tricampeonato de suas comandadas nos Jogos do Rio, daqui a um mês. No Mundial de 2014, os Estados Unidos subiram ao topo do pódio. A China foi vice, e o Brasil, terceiro.
– Não tivemos problemas neste ciclo. O problema são os desafios atuais, foi ficarmos em terceiro lugar no Campeonato Mundial. Teremos de correr muito para voltar a conquistar uma medalha olímpica – declarou Zé Roberto, nesta entrevista exclusiva ao LANCE!.
LANCE!: No início deste ano, você não escondia a preocupação com a condição física de jogadoras importantes a poucos meses da Olimpíada do Rio. Qual é a sua avaliação hoje sobre isso?
ZÉ ROBERTO: Foi uma preocupação, mas agora elas já estão em uma fase melhor fisicamente. Quando iniciamos os treinamentos, elevamos as cargas. Está tudo caminhando bem. Eu acredito que tenhamos conseguido atingir o objetivo traçado para este momento. Algumas jogadoras vieram de contusões, casos da Gabi e da Jaque. Elas tiveram um tempo maior até chegar à condição adequada, mas, no contexto geral, está tudo dentro do esperado.
L!: A primeira fase do Grand Prix serviu para que você analisasse adversários importantes que a equipe terá na Olimpíada. O que te chamou atenção até agora?
Z.R.: Vimos que a China tem jogado com muita velocidade pela saída da rede. A Sérvia está apostando em bolas altas e com muita força. O Japão segue com velocidade e o jogo baseado na defesa. Agora, vamos ter noção mais fiel de outros times que estarão nos Jogos, como Rússia, Holanda, China e Estados Unidos.
L!: O que achou da Seleção na primeira fase do Grand Prix?
Z.R.: A equipe teve altos e baixos na primeira fase, principalmente no passe e no sistema defensivo. É isso que estamos procurando melhorar para a fase final do Grand Prix (que começa nesta quarta-feira, na Tailândia) e os Jogos.
L!: Apesar de ter conquistado o ouro em Pequim e Londres, você diz que o grupo chegou em melhores condições em 2008 do que em 2012. Que lições daquele ano procurou trazer para a Seleção agora, pensando na Rio-2016?
Z.R.: Acho que o título na China sempre serve de lição. Mas não podemos esquecer que 2007 foi um ano muito difícil. Nós tivemos naquele ciclo situações boas, mas também complicadas. As difíceis acabaram nos ajudando. Sempre as vejo de uma maneira positiva. A Olimpíada de 2008 foi um grande desafio, pois até lá as jogadoras eram taxadas de amarelonas. O que aprendemos é que, apesar das dificuldades, tudo pode melhorar. Tivemos esta lição em 2007, em 2008 e em 2012. Temos de levá-la sempre.
* Em 2007, o Brasil perdeu a final do Pan do Rio para Cuba, no Maracanãzinho, o que elevou as críticas sobre o time após uma série de derrotas para a Rússia nas finais dos Mundiais de 2006 e 2010, e na semifinal de Atenas (GRE), em 2004.
L!: Desde que assumiu o cargo, em 2003, o ciclo olímpico atual é o mais tranquilo da sua história?
Z.R.: Acho que sim. Com o amadurecimento das jogadoras, tudo muda. Muitas, hoje, são mães. Algumas planejam seus casamentos. Nós não tivemos problemas neste ciclo. Mas é difícil falar. Não dá para usar isto como parâmetro e dizer que terá algum efeito (nos Jogos). O problema neste ciclo são os desafios atuais, foi ficarmos em terceiro lugar no último Campeonato Mundial. Hoje, temos de pensar é nos adversários, alguns em grande fase. Teremos de correr muito para voltar a conquistar uma medalha olímpica.
L!: Uma das grandes rivais do Brasil nas últimas Olimpíadas e Mundiais, a Gamova (oposto russa) anunciou que não virá à Rio-2016. Foi uma boa notícia?
Z.R.: Não achei uma boa notícia, assim como não comemorei a ausência da Sokolova (ponteira). Na verdade, acho que a não vinda delas é uma grande perda para os Jogos Olímpicos. É triste, pois as duas construíram trajetórias brilhantes. Em um evento como a Olimpíada, seria muito legal vê-las aqui. Mas, se optaram por encerrar a carreira, temos de respeitar a decisão delas.
L!: O Brasil está aproveitando a chance de sediar os Jogos?
Z.R.: Como legado dos Jogos, o mais importante é o que eles trarão às nossas futuras gerações. É fazer as crianças e adolescentes sonharem em se tornar grandes atletas, ao assistirem grandes atletas de perto. Para mim, o que conta é isso, não as instalações. É o sonho de estar perto de um ídolo, de vê-lo em ação.
L!: O vôlei brasileiro já sente os impactos da crise econômica do país. O orçamento da maioria dos clubes diminuiu, e a Seleção tem atletas sem clube (casos de Sheilla e Jaqueline). Dá para ser otimista no cenário atual?
Z.R.: É cedo para saber. Estamos focados nos Jogos Olímpicos, tão próximos. Estou sim preocupado com o pós Rio-2016, mas a minha preocupação maior hoje é com o que acontece na Seleção. Vamos ver como a economia vai reagir, como o Brasil responderá como um todo, com as mudanças em curso no país, para ver se tudo retoma de alguma forma. Tomara que isto aconteça.
L!: Como o grupo reagiu ao saber do atentado no aeroporto de Istambul? Acha que algo parecido pode acontecer na Olimpíada?
Z.R.: Eu, particularmente, fiquei triste. Nós estávamos em segurança no lado asiático da cidade, mas o sentimento de tristeza por esses acontecimentos no mundo é grande. Não acredito que isso vá acontecer nos Jogos Olímpicos.
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