Para conquistar a inédita medalha no vôlei sentado na Paralimpíada, a seleção brasileira masculina vai ter de superar um tabu e um gigante. É que os iranianos têm cinco títulos e duas pratas nesta competição (a Bósnia é a atual campeã) e para o Rio-2016 contam com o reforço de Morteza Mehrzadselakjani, de 2m46, uma das 10 pessoas mais altas do mundo. O técnico Hadi Rezaei aposta em Morteza, que completa 29 anos amanhã, mas também nos outros sete novos jogadores, recém-integrados ao grupo, para o resgate do título. A confiança se baseia também na vitória por 3 a 0 contra a Bósnia na fase classificatória. Mas, segundo ele, chegar à decisão será difícil, já que aponta o Brasil como uma das potências na modalidade. Brasil e Irã se enfrentam hoje, às 20h30, no Riocentro, pela semifinal da Paralimpíada. Egito e Bósnia disputam a outra vaga na decisão, às 18h30.
— Vai ser complicado. Gostaria de ver o Brasil na final porque o público torce com o coração. Poucas vezes na vida vi torcedores assim. Mas como fazemos a semifinal contra os brasileiros, acho que pode ficar para a próxima edição — reflete, lamentando o cruzamento com o time de Fernando Guimarães na semifinal.
Fernando também prevê confronto duro, principalmente por causa do gigante:
— Ele realmente faz a diferença mas não joga sozinho. O time inteiro é fortíssimo. Morteza é a cereja do bolo — elogia, estimando que Irã e Bósnia estão um degrau acima dos outros. — São as seleções mais tradicionais e as mais difíceis de serem batidas. Mas a gente já ganhou do Irã uma vez, no Mundial de 2014. Tudo bem que não tinha o gigante. A estratégia é dar o mínimo de contra-ataques possíveis. Assim, roda lá e aqui, e ele sai logo da rede. Se a gente jogar bem, fica difícil para qualquer time. Inclusive o Irã.
Também conhecido como Mehrzad (primeira parte do também gigantesco sobrenome), Morteza foi descoberto por Rezaei num programa de TV que mostrava pessoas com deficiências físicas e talentos incomuns. O homem mais alto do Irã falava de suas dificuldades no dia a dia. O técnico resolveu procurá-lo. Ligou para a TV e conseguiu o contato do altão, que tem uma irmã e um irmão, ele com mais de 2 metros, e vivia recluso, com vergonha do seu tamanho, em uma cidade costeira do Irã.
— Era sozinho, deprimido. Minha vida mudou quando sentei para jogar vôlei. O esporte me devolveu à sociedade, ao convívio com as pessoas. Viajei para China, Holanda, Alemanha e Brasil. Vi muita gente e não imaginava que isso era possível. Antes dos 13 anos, eu era alto, sempre o mais alto da escola, mas não tão alto. Depois, quando cresci muito, larguei a escola. Trabalhei numa padaria e só — lembra o atleta, que anda com muletas ou cadeira de rodas.
Com 1,90m aos 16 anos, sofria de acromegalia (excesso de hormônio do crescimento), fraturou a pélvis ao cair de bicicleta e teve paralisado o crescimento da perna direita — a esquerda tem 15 centímetros a mais. É por essa razão e não pela altura que ele disputa a Paralimpíada (diferetemente do nanismo, o gigantismo não é considerado deficiência). Passou a integrar a seleção de vôlei sentado ano passado após um intensivão para aprender fundamentos.
Por isso, Rezaei minimiza a importância de ter sido ele a descobrir Morteza, que alcança 2m30 no ataque e 1m96 no bloqueio:
— Muitos técnicos me ajudaram a treiná-lo. Posso tê-lo visto na TV mas muita gente o lapidou — alega o treinador, que espera que outros talentos, com altura e esquecidos por aí, possam se empolgar. — De fato, ele não era ninguém. As pessoas tinham medo de se aproximar. Agora, pedem para tirar fotos, é famoso nos EUA, no Brasil, no mundo. Mas esse é o nosso trabalho. Espero que a história dele inspire outros reclusos.
O técnico afirma que Morteza pode evoluir e que em Tóquio-2020 será o melhor do mundo.
— Ele estica os braços e já ganha o ponto. Aprendeu rápido as técnicas do esporte e tornou-se um fenômeno. Mas hoje joga só 50% do que pode. Será o melhor da história
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