E um dos segredos para zerar esta estatística encontra-se escondido embaixo da blusa dos atletas: tal qual o sutiã dos jogadores de futebol, que coleta dados durante a partida para análise de desempenho, os atletas do vôlei tem uma faixa na cintura, como um cinto, com um chip acoplado, que marca a quantidade e a altura dos saltos. O dispositivo, usado inicialmente pelas seleções americanas, feminina e masculina, tem a função de auxiliar a comissão técnica no volume de treinamento.
— Conseguimos calcular a quantidade de saltos que cada atleta costuma fazer em treinos e em jogos. Elaboramos um perfil de cada um, ou seja, o que cada um está acostumado a fazer, sua performance. E no treino, quando ele chega no seu número, eu sei que não posso forçá-lo mais, não vou deixá-lo no bagaço. Antes era mais no escuro, não tínhamos tanta precisão — explica Bacchi, que começou a usar a tecnologia Vert em 2016, no último ano da era Bernardinho. — Em 2017, não tivemos lesões musculares. Ou seja, o Renan teve todos os jogadores à disposição nos treinos e nos jogos. Acertamos na medida.
EM CIMA DOS ATLETAS
O dispositivo funciona assim: toda vez que o jogador saltar, a informação vai para o computador de Bacchi, via Bluetooth. Isso inclui saltos para ataque, bloqueio, saque... para todos os fundamentos. Além da quantidade, o preparador físico também recebe a informação sobre a altura de cada salto, em centímetros. Os levantadores, que saltam praticamente em todas as jogadas, tem as médias quantitativas maiores.
Bacchi conta que na época da Olimpíada do Rio, em 2016, todos os jogadores apresentaram saltos mais altos, desempenho superior à média pessoal. E que Wallace arrebentou a boca do balão: chegou a saltar 1,04m. Em 2017, todos mantêm a quantidade muito próxima, mas não a altura. Destaque para Lucarelli, o mais regular da seleção, cuja altura média, em jogo ou treino, se manteve em 83cm (o número é o resultado da soma de todos os saltos — desconsiderando os abaixo de 40cm — dividido pelo número total de saltos). A média dele, dos saltos mais altos de cada jogo, foi 96cm.
Em 2017, Wallace foi o que mais saltou em jogos, incluindo a recém disputada Copa do Campeões, no Japão. Foram 108,7 saltos de média por jogo. Sua média de altura em jogo é de 84cm e a média dos saltos mais altos, 91cm.
— Comparamos cada atleta com o melhor dele mesmo e podemos traçar um plano de ação para cada um. E o Renan usa muito essa ferramenta. Por ser uma comissão técnica nova, há mais troca de informação, mais diálogo. Até para encaixar nossa metodologia de trabalho — afirma Bacchi, que está há cinco anos na seleção brasileira.
NÚMEROS:
78,9 saltos - Média de quantidade de saltos dos ponteiros em treino da seleção, em 2017
87,6 saltos - Média de quantidade de saltos dos opostos em treino, em 2017
104,8 saltos - Média de quantidade de saltos dos centrais em treino, em 2017
149,5 saltos - Média de quantidade de saltos dos levantadores em treino, em 2017
153,3 saltos - Média do central Tiago Barth, jogador que mais saltou em treinos da seleção
por Carol Knoploch
O Globo
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