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Walsh levanta debate sobre nova premiação: “Pagando para jogar”

vôlei de praia Alison e Bruno Schmidt (Foto: Divulgação / FIVB)
O boicote de Keri Walsh ao Circuito Americano de vôlei de praia teve ecos na etapa do Rio de Janeiro do Circuito Mundial. Sem a presença da maior vencedora do esporte nas Olimpíadas, os questionamentos sobre o profissionalismo da modalidade e a redução drástica das premiações tomaram corpo na voz de outros grandes nomes das areias. O novo sistema que divide os torneios em categorias de uma a cinco estrelas é apontado como um dos vilões, e uma medalhista olímpica afirmou que, em algumas etapas, chega ao ponto de pagar para jogar.

Walsh anunciou no início deste mês que encerraria a parceria com April Ross como consequência de divergências sobre a participação no tour americano, conhecido como AVP. O circuito exige exclusividade, impedindo que os atletas compitam em outro evento em território americano. Por considerar que as premiações oferecidas não compensavam, a tricampeã dos Jogos abriu mão do AVP e da dupla com Ross, com quem foi bronze na Rio 2016. Assim, ficou sem dupla para jogar no Rio de Janeiro e na sequência da temporada.
Entre os americanos, há o questionamento se a atitude de Walsh foi altruísta ou não. Mas, independentemente das intenções da colega mais famosa, Brittany Hochevar acredita que as críticas À AVP se aplicam também ao Circuito Mundial. Ela afirma que as premiações estão fazendo vários atletas repensarem a participação no evento e considerarem buscar fontes paralelas de renda.
Larissa e Talita contra Walsh e Ross no vôlei de praia (Foto: Tony Gentile/Reuters)
- Nós vamos ver pelo que Keri está lutando, se é pelo esporte ou por ela. Há atletas aqui na melhor forma da vida, mas as premiações são as menores em uma década no Circuito. Claro que os atletas querem mais dinheiro e mais torneios para jogar, mas se não jogarmos o AVP, e aí? Como posso desenvolver minha habilidade, se eu não competir? Acho que não seja AVP o problema, é um global. Por que viajar para o Brasil ou para a China por menos dinheiro que podemos fazer nos Estados Unidos? Só porque temos a chance de jogar contra as melhores duplas do mundo. Mas talvez seja hora de sair do esporte, há muitos atletas considerando isso. Há necessidade de trabalhar para se manter. O profissionalismo do esporte está em risco.
Heptacampeã do Circuito Mundial, Juliana disputou a etapa do Rio ao lado de Carol Solberg. Sem os mesmos patrocínios da época da vitoriosa parceria com Larissa e tendo que enfrentar disputas preliminares (country-cota e qualifying), a santista tem sentido no bolso as dificuldades de percorrer o tour.
- Estão acontecendo muitas mudanças, né?! A premiação já está baixa desde Londres. Desde 2012 que está tendo problema. Acho que não é uma situação do vôlei e sim uma coisa mundial. Óbvio que todo mundo fica triste. Há seis ou sete anos atrás a premiação era quatro vezes maior do que é hoje, então é um pouco difícil. Mas a gente ama e hoje, em alguns momentos, a gente está pagando para jogar – disse Juliana.
Moscou 2009 - Juliana e Larissa Premiação (Foto: Divulgação/FIVB)
Para os leigos, as cifras podem parecer altas, mas vale lembrar que os atletas não possuem apoio de clubes no vôlei de praia. Assim, são responsáveis por custear todas as passagens de avião, além de salários e eventuais despesas com viagens de suas comissões técnicas.
No ano passado, as etapas de maior valor para o ranking eram os Grand Slams e Majors, que davam US$ 57 mil aos campeões. Na temporada 2017, as etapas 5 estrelas, as principais do calendário, pagam US$ 40 mil aos vencedores. A etapa do Rio, de 4 estrelas, rendeu US$ 20 mil a Ágatha/Duda e Alison/Bruno Schmidt, que subiram no degrau mais alto do pódio.
Para o Mamute, a mudança para o sistemas de estrelas foi responsável por essa queda significativa na premiação. Ele explica que o que impede os atletas de abrir mão de alguns torneios é a forma como a classificação da temporada é montada, utilizando-se os seis melhores resultados no ano. 
- Foram mudanças drásticas. De um (torneio) 5 estrelas para um 4 estrelas é uma redução (de premiação) enorme. Três então... Nós estamos indo para Moscou para fazer ponto, porque você precisa de resultado, pegar os seis melhores de oito. Se eu não jogar Moscou fico sem descarte e ano que vem posso estar no qualifying. Ela (FIVB) mudou o sistema, mas não mudou as regras. Existem vários problemas. A premiação caiu US$ 200 mil para ter diferencial para o 5 estrelas. Por que um promotor vai fazer um torneio de 5 estrelas se pode fazer um de 3 e ter um campeão olímpico? Nosso desejo não é boicotar nenhum (torneio), mas a gente tem que brigar por melhorias no esporte. A gente tem que valorizar o nosso esporte, que é o 3º ou 4º que mais vende ingressos nos Jogos Olímpicos, que tem medalhistas olímpicos no Brasil, nos EUA, na Alemanha. A gente sabe da crise, mas que tem que fazer torneios melhores. Talvez menos torneios, mas melhores.
Para o ex-jogador Sinjin Smith, hoje supervisor técnico da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), a queixa dos atletas até é pertinente, mas o mercado não permite outro cenário econômico.
- Acho que é natural para os jogadores querer mais sempre. Mesmo se houvesse um aumento acho que eles pediriam mais. A questão é que eles se preocupam apenas em jogar, mas não veem o esporte como um negócio. Quando você vê o sucesso do vôlei de praia nas Olimpíadas, as vendas de ingressos nos Jogos, você vê o quão fantástico o esporte é. Mas ninguém sabe responder o porquê desse sucesso não se transferir para o Circuito Mundial ou para os circuitos nacionais. Se perguntar a qualquer organizador, ele simplesmente vai dizer que os patrocinadores não estão dando a eles dinheiro. O produto é o mesmo, emocionante, competitivo, mas os patrocinadores não estão dando o mesmo valor. E as premiações tem que acompanhar o que eles pagam. Não é uma decisão da FIVB simplesmente reduzir os prêmios, mas sobre ter ou não o dinheiro dos patrocinadores.



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