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Bebeto de Freitas chora ao comentar prisão de Nuzman

 

A notícia da prisão de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), causou perplexidade e comoção entre ex-atletas que estiveram na linha de tiro do dirigente, eleito presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) pela primeira vez em 1975. Ex-jogador que, como técnico, comandou a chamada geração de prata nos Jogos de Los Angeles, em 1984, Bebeto de Freitas divide sua tristeza com Jackie Silva, a primeira mulher brasileira a ganhar uma medalha de ouro olímpica (no vôlei de praia, ao lado de Sandra, em Atlanta-96). Emocionado, Bebeto chegou a chorar.

— Estou triste. Trabalhei pra caramba. Não trabalhei pra ele ser preso, não. Trabalhei pra c... pra esse vôlei do Brasil. Essas coisas perduram por culpa nossa. A culpa é daqueles que não tiveram coragem do botar o dedo na ferida e falar. Era mais fácil dizer que eu estava maluco, doido. Culpa de todos nós, do vôlei. Esses anos todos sempre soubemos, sempre tivemos certeza de que coisas erradas aconteciam. Enfim, culpa de todos do esporte no Brasil. Culpa das confederações, federações, de todos. Essas coisas só acontecem quando as pessoas não se revoltam. A gente não tem indignação. Enquanto no Brasil esse sentimento não aflorar, a gente vai viver no País de merda em que a gente vive — desabafou Bebeto.

A ex-levantadora Jackie Silva, que teve problemas com o dirigente nos anos 80, como uma das líderes daquela geração do vôlei de quadra, lembra não ter sido convidada para participar da abertura da Rio-2016, mesmo sendo uma histórica medalhista olímpica. Apesar da retaliação, Jackie não comemora a prisão de Nuzman.

— Acho tudo muito triste. Eu não consigo entender... Não consigo entender, não somente isso, mas tudo o que acontece com o Brasil ultimamente. Não me surpreende, não. Eu esperava. Mas o problema do esporte nacional continua. Isso não me deixa feliz, não me deixa nada. Continuo indo pra Duque de Caxias duas vezes por semana, e correndo atrás dos meus patrocínios — diz a ex-jogadora, que comanda o projeto Atleta Inteligente, no Ciep 340 Professora Laís Martins.

Jackie lembrou o autoritarismo de Nuzman, como dirigente:

— A pessoa maior do esporte hoje é o Nuzman. Reconheço-o como quem manda no esporte no Brasil. Penso bem diferente dele, mas aqui no Brasil ele é o capitão do esporte. Durante esses anos, as regras foram ditadas por ele. Quem tá dentro é quem aceita. Quem não aceita está fora. Eu nunca estive dentro. Estive fora também da Olimpíada. Não participei da abertura, de nada. Mas fui comentarista porque sou uma campeã olímpica. Se a festa tem dono, se o esporte tem dono, é outra coisa. A gente respeita a vontade das pessoas. Se não é pra eu participar, não participo. Outras coisas virão, como sempre vêm.


Bebeto de Freitas lembrou ainda de Ary Graça, presidente da Federação Internacional de Vôlei, acusado pelo ex-publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza de ter recebido propina quando dirigiu a CBV — o dinheiro teria vindo em uma cota de patrocínio do Banco do Brasil. Bebeto atacou também os aliados dos dois dirigentes.

— Não tem nada de alívio. O sentimento é de tristeza e de indignação pela permissividade, pelas pessoas com quem convivi os melhores momentos da minha vida, mas que se sujeitaram a uma ditadura esportiva que começou com o voleibol e terminou no esporte do Brasil. Esses que sempre ficaram calados, se omitiram diante de fatos claros, como você os qualifica? No mínimo, coniventes. Não vou dar nome. Nunca deixei de falar o que acho ou achava, nunca deixei de criticar, de falar, mas nunca tentei criar partido, trazer ninguém junto. Mas todos sempre souberam, todos sempre souberam... Você tem noção do que isso representa para o esporte do Brasil lá fora? Temos ainda o Ary Graça... E não temos explicação até hoje. Ele é o presidente da Federação Internacional de Vôlei. Além da suspeita de que compramos a Olimpíada, temos ainda pessoas importantes dentro da estrutura do esporte mundial que estão no comando lá fora. E os que estão no entorno...

O ex-treinador de vôlei conheceu Nuzman quando ambos jogavam vôlei no Botafogo. O ex-treinador foi um dos articuladores da campanha do então colega de time para a presidência da Federação Carioca de Vôlei, em 1973. Bebeto custou a perceber a hora de mudar de ares.

— Nuzman encerrou a carreira de jogador no Botafogo. E nós queríamos que ele assumisse a Federação, para lutar contra a situação parecida com a que temos hoje: um cara estava na Federação há muito tempo. O primeiro vice do Nuzman foi meu pai (o advogado Nethtaly de Freitas Filho), na Federação de Vôlei do Rio de Janeiro, em 1973. Meu tio e padrinho (Renato de Freitas) era tabelião e foi o primeiro diretor financeiro dele na Federação. Minha relação com Nuzman acabou a partir do momento em que entendi a forma como ele administrava o voleibol do Brasil. E principalmente no período da geração de prata. Ele passou por cima da lei e em nenhum momento retribuiu aos atletas tudo o que eles tinham por direito de imagem. Nunca pagou. Passei 15 anos fora do Brasil porque aqui não trabalharia. Fui o exemplo de que quem brigasse com autoridade não poderia ficar. Quem andasse comigo seria prejudicado. Fiz minha vida. Não tenho nenhum arrependimento. Tenho orgulho, uma coisa que me dá um ogulho sem limite foi entrar para o Hall of Fame (o Hall da Fama, em Holyoke, Massachusetts, nos Estados Unidos).

 


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